quinta-feira, 17 de março de 2016

CELEBRAR A MEMÓRIA


Grande puxada de rede no Itaguá, na metade do século XX (Arquivo Ubatuba Histórica)
                       Hoje é dia especial: eu e Gal comemoramos vinte anos de casamento. Só temos a agradecer pela nossa felicidade e pelos nossos frutos: Maria Eugênia e Estevan José.

             Atualmente, olhando tantos rostos desconhecidos que nem se esforçam para responder aos nossos cumprimentos, penso em outros tempos, quando as pessoas se conheciam e eram mais solidárias. De vez em quando, puxando pela minha memória, sinto o quanto foi bom ter nascido numa época onde o consumismo passava longe de nós. Era tempo de pitirões (mutirões), de festas populares, de diversões que não precisavam de nada de fora. Nunca se imaginava essa força da indústria cultural que detona tantas riquezas locais.          Nos estudos sobre os caiçaras, Maria Luiza Marcílio afirma aquilo que pude testemunhar:

               Intenso laços de solidariedade uniam os grupos domésticos vizinhos, colaborando para que a entreajuda fosse regra e padrão de conduta e mesmo de resistência entre os camponeses. Trocava-se alimentos, mas também se oferecia trabalho, solidariedade nos momentos difíceis, de carências, doenças, acidentes e mortes. É questão de honra e de satisfação pessoal e obrigação que se impõe ao nosso caboclo de ontem e de hoje, as várias formas de oferecimento de seus préstimos, para colaborar com seus vizinhos. Com isso, essas populações aparentemente pobres, dificilmente conheceram o fenômeno coletivo da fome (tão frequente, por exemplo, em sociedades agrícolas monocultoras de cereais, como as europeias do Antigo Regime). A fome ocorreu entre nós [no Brasil] apenas nas áreas de grandes latifúndios monocultores de culturas exportadas ou nos grandes centros urbanos. Entre os roceiros havia, quase sempre, “fartura”.
               Era um regime de intensa e arraigada solidariedade, ajuda mútua e reciprocidade. Os que conseguiam safras maiores e pescarias abundantes nunca deixavam de oferecer sua contribuição aos demais, especialmente aos parentes ou aos mais pobres e desamparados, como testemunhava a velha D. Zulmira:... “o pai nunca vendia nada, ele dava...”.

               Nesta semana, comemorando o Dia do Caiçara (15 de março), vale a pena manter viva- memória da cultura que somos.

               Em tempo: Essa Dona Zulmira era minha bisavó, nativa da Praia do Pulso. Seu pai e avô criavam cabras na Ilha da Maranduba (ou do Tamerão), que fica defronte à Ponta do Pulso.

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