quinta-feira, 6 de março de 2014

AOS NOVOS UBATUBENSES (IV)

  


          Hoje é aniversário do blog (coisasdecaicara.blogspot.com).  São três anos de vida. Ao todo, são 733 textos publicados com o objetivo de dar a conhecer a cultura caiçara nesse pedaço de chão por nome de Ubatuba. Por ele passaram das 49 mil visitas.  Além dos seguidores e dos demais leitores, também ocorrem registros provenientes de outros países. Eis os números de acessos em fevereiro último: Brasil 1350,Estados Unidos 764, China 389, Alemanha 83, Reino Unido 21, Rússia 17, Índia 17, Canadá 11 e por aí vai. Não é legal isso?
         O desenho de aniversário resume o que resultou da convivência entre a serra e o mar, num chão de características tão singulares. 


Agora concluo sobre os descendentes de franceses aqui encontrados em 1949. O texto auxiliar foi publicado na revista O Cruzeiro, em 19 de fevereiro de 1949, cujos autores traçaram os desdobramentos da ruína que se abateu à cidade após o período cafeeiro, na segunda metade do século XIX.



“Outra pessoa que nos causou impressão foi a cinquentenária Maria Vitória Jean,cujos avós, franceses-suiços, se chamavam Michel Cottés e Marie Antoniette Perroud, naturais do cantão de Fribourg, chegados no Brasil em 1863“. Essa mulher é a quem se deu o nome de uma das ruas principais da cidade, que serve  como acesso ao trevo da rodovia (BR-101- Rio-Santos). Porém, na ocasião da matéria, é revelador da sua penúria: “Não reune nenhuma característica que possa revelar a sua estirpe nobre. É uma mulher rude, a face rugosa com apenas um dente no maxilar superior. Ela mesma faz a sua lavoura, que é pequena, apenas para consumo de sua casa, onde mora com um rapaz que tomou para criar”. No momento de fazer as fotografias, a nobre caiçara “deu um pulo da cadeira e perguntou se não iríamos fazer campanha para expulsá-los (os franceses) do Brasil”. 


Outros descendentes nobres desfilaram pela matéria original. “Em uma humilde casinha encontramos o casal Arlindo Soares, um pernambucano de Caruaru, ao lado de uma figura simpática, olhos azuis, cabelos também esbranquiçados, por nome de Virgilina da Silva Prado Bruyer, cujos avós -Jean Bruyer e Antoniette Bruyer - dedicaram-se à arte da olaria em Ubatuba”. “Dos Garroux, pudemos descobrir também uma descendente: D. Clotilde, costureira,que fomos encontrar sentada à mesa, trabalhando em sua ‘Ste. Etienne’, uma famosa máquina francesa”.

Para aceitar a miséria que se abateu à cidade, uma peça teatral foi criada após o fracasso da ferrovia que nos ligaria até a cidade de São Bento do Sapucaí, passando por Taubaté, cruzando o Vale do Paraíba. Resumidamente foi assim:

“Numa concha, colocada ao lado do palco, dormitava um menino, representando a cidade. À certa altura deveria entrar em cena uma locomotiva fazendo grande estridor, arrancando salva da assistência. O menino deveria então, acordar, tomar atitudes vivas e e gritar “Vivas” a Ubatuba. Pretendia-se simbolizar que a cidade se levantava novamente para o progresso, depois dos golpes da abolição da escravatura e do isolamento a que ficara relegada com a Estrada D.Pedro II. Entretando, com a demora do aparecimento da locomotiva, o menino da concha adormeceu de fato e não acordou quando a máquina entrou em cena. Então se arraigou no espírito popular a crendice de que a sentença de morte de Ubatuba já estava lavrada”. E o quadro testemunhado pelos autores da matéria, familiarizados com o ritmo das grandes cidades, obrigados a uma aterrissagem por acaso na quase isolada cidade litorânea, onde a cultura caiçara transbordava, leva ao desfecho da mesma: “E na realidade foi o que aconteceu”.

Hoje, ao passar pela Rua Maria Vitória Jean, reflita nas múltiplas contribuições étnicas que acentuam as características do nosso povo caiçara. Pense nas pessoas que continuam apostando na dignidade de nossa cidade e trabalhando por ela. Melhor ainda: seja uma dessas pessoas.

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