segunda-feira, 3 de março de 2014

AOS NOVOS UBATUBENSES (II)



          Passando pelas terras da antiga Fazenda Jundiaquara, juntamente com o amigo Elias, relembrei de que os franceses já produziram muito nesse chão ubatubano. Morando na área, em 1980, conheci a Lourdes Robillard de Marigny. Agora, me pergunto o quanto está perdendo o município por não investir no turismo cultural. Disse-me o Velho Rita: "A Jundiaquara foi quem recebeu o primeiro engenho vindo do estrangeiro. Aquela geringonça toda subiu puxado pelo rio Acaraú". É isso mesmo! Esse rio que hoje está morto devido ao esgoto que recebe!

     É recomendável que os caiçaras saibam o máximo de sua história, da formação desse povo que vive entre a serra e o mar. Os migrantes (de Minas Gerais, da Bahia, da capital paulista etc.) e seus filhos também passam a fazer parte da história deste lugar por nome de Ubatuba. Portanto, se querem zelar pelo chão que os sustentam, nada mais lógico que saibam responder sobre a cultura do lugar. É neste propósito que eu recupero um texto antigo de dois repórteres da revista O Cruzeiro, de 1949. Sob o título de Caipiras de sangue azul, no texto de Arlindo Siva com fotos feitas por Roberto Maia, é narrada a saga dos descendentes dos franceses que adotaram Ubatuba no início do século XIX. 

     Tudo começou com uma aterrissagem forçada, em época de muita chuva, por sugestão do Sr. Bom, ao instigar o espírito jornalístico dizendo que havia um veio de matéria interessante: se tratava de “descendentes de famílias ilustres vindas de França no século passado, e que estão por aí plantando fumo, fazendo lavoura de café, ou então, transformados em donos de vendas”.

     Fugindo de guerras no antigo continente ou deixando os revoltosos haitianos na sua independência, os franceses aqui aportaram, compraram grandes extensões de terras e organizaram suas fazendas. “Eram os Vigneron Jousselandière, os Robillard de Marigny, os Giraud, os Faviol,  os Bruyer, os Arnois-Savoy, os Charleaux, os Billiard, os Bourget e os Melany. Houve os que montaram olarias e o que ingressaram na Marinha Imperial. Ubatuba passou por um período de esplendor social e cultural. Construiram-se mansões senhoriais e a cidade teve o seu Ateneu e o seu teatro de luxo. O transporte de mercadorias do sul de Minas e do Vale do Paraiba, até Ubatuba, era feito através de uma estrada de rodagem, toda calçada de lajes [...] Era uma estrada real. A primeira máquina de fabricar tecidos que São Paulo teve foi recebida por Ubatuba e encaminhada para Taubaté”.

     Os autores da reportagem não deixam de citar a decadência da cidade litorânea, que veio por decreto do governo: toda mercadoria só poderia usar o porto de Santos para ser comercializado em outras terras. “Foi quando os franceses fazendeiros, aliados a portugueses comerciantes e lavradores, procuraram reagir, tentando salvar Ubatuba da derrocada. Reuniram os seus capitais, com garantia de juros pelo governo federal, e meteram mão à obra: a construção de uma estrada de ferro ligando Ubatuba a Taubaté. Uma organização inglesa se encarregou de fornecer o material ferroviário, e se começou a perfuração de túneis, as construções de aterros, os cortes das elevações. Tudo fazia crer que a decisão daqueles homens de dinheiro iria restituir a Ubatuba o seu fastígio”.  

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