sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

O VALOR DO CHIFRE

Ninhada de pato no quintal do Bigode


      Hoje, vasculhando papéis mais antigos, encontrei a seguinte      pérola do João de Souza, o  nosso saudoso contador de causos do bairro do Itaguá. Creio que não posso escondê-la. Boa leitura!

É indiscutível o valor do chifre, tanto para os homens como, principalmente, para os animais. Para os animais os chifres têm a função de defesa; para os homens a função de utensílios e decorações.
O touro numa tourada ataca com os chifres. O carneiro disputa sua fêmea lutando com os chifres. Já o veado usa seus chifres apenas para desfilar na floresta. O elefante nasceu com os chifres para baixo, dizem que são suas presas, mas eu digo que são chifres. No mar temos o camarão que tem apenas um chifre, feito lança. Ninguém ainda pesquisou a utilidade do chifre do camarão, mas a minha tese é que ele usa seu único chifre para furar a ova do siri ou para cutucar a bunda do corrupto.
Para os homens, o chifre é de fundamental importância desde a sua vivência em cavernas, utilizando-os como armas, até os dias de hoje usando-os como utensílios domésticos e artefatos de decoração.
As espingardas de antigamente eram de carregar pela boca, onde os antigos caçadores andavam pela mata com um par de chifres, sendo um para carregar a pólvora e o outro o chumbo.
            Os antigos pescadores, para anunciar a entrada dos grandes cardumes de tainhas na baía, metiam a boca no trombone, feito de chifre de boi.
Já os boiadeiros usam os chifres em forma de berrante para reunir o gado. O chifre berrante também é usado para dar inicio a uma festa de peão de boiadeiro.
O dinheiro dos coronéis de fazendas era guardado em seus chifres, ou melhor, no chifre de boi que eles possuíam. Uma vez um senhor muito honesto achou um chifre cheio de dinheiro, não sabendo a quem devolver, teve uma ideia:  de duas formas passou a anunciar o achado. Bem alto ele gritava: “Achei um chifre” e, em seguida, bem baixinho, ele falava: “Tá cheio de dinheiro”... Saiu pela a cidade gritando, e por onde ele passava as respostas eram as seguintes: “É do teu pai!”, “É do teu irmão!”, “É da sua mãe!”, “É do teu avô!”. Com essas respostas, não teve dúvidas de quem era  o dinheiros que estava dentro do chifre: como seus pais, seu irmão e seus avós eram mortos, o dinheiro ficou para ele.
Os chifres também são usados pelos homens como meio de ofensas, humilhações e gozações. O chifre quando é usado nesse sentido é porque já destruiu família, separou casais. Tem chifrudo que gosta do chapéu e faz que não sabe. “Um delegado recém-casado foi transferido para uma cidade do interior, onde diziam ser a cidade dos chifrudos e que todos que lá chegavam seriam cornos também. Não deu bola para esse boato porque conhecia muito bem a mulher que tinha. Alugou um apartamento de frente para uma pracinha e ali ficava observando todo o movimento da cidade e foi comprovando a fama da cidade: descobriu que o dentista, o médico, o banqueiro, o padeiro e até o prefeito, quem diria! Enfim, todos eram cornos. Certo dia viu sua esposa saindo sorrateiramente de um hotel. Desesperado tentou tirar a cabeça de fora da janela, mas não conseguiu, pois ficara preso pelos chifres. Já era!!!
Outro dia, aqui no nosso ranchinho, apareceu o senhor Darbely Feline, o nosso querido Beto Mágico trazendo um par de chifres na cabeça de um lobisomem, um bicho muito feio por sinal, que logo o  nosso conhecedor de lobisomem, o Bigode, já saiu em defesa dos lobisomens, dizendo que aquilo que o Beto trouxera não era lobisomem e sim a imagem do coisa ruim, mas aí o Beto falou que tem lobisomem chifrudo também. Foi uma farra: um defendia os lobisomens e outro defendia o chifrudo.
Pois é... essa história de chifre não dá muito certo! Então vamos parar por aqui finalizando  com a frase do dia:
            “PENTE ENROSCANDO  EM CABEÇA DE CARECA É SINAL DE CHIFRE.”
            João de Souza, o caiçara do pé rachado. Ubatuba 19/7/2001

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