domingo, 4 de dezembro de 2011

“Arranhando” o japonês.

(Trindadeiros - 30 anos depois)
                Quando pequeno, eu escutei falar de uma escola de pesca que, nas décadas de 1950/1960, funcionava na Ilhabela. Mais tarde procurei saber mais detalhes dessa escola. Tratava-se de uma iniciativa católica (semelhante a ASEL e a ALA que nós, os mais “antigos”,  conhecemos, em Ubatuba) para proporcionar uma formação técnica-assistencial aos jovens caiçaras. Era também uma ação humanitária. Nessa intenção, na ilha que abriga tantos caiçaras, foi criada uma estrutura básica funcionando como internato, ou seja, de diversos pontos do Litoral Norte, os filhos das famílias pobres eram encaminhados para serem instruídos de forma mais técnica na arte pesqueira. Legal isso, né?
                Indo mais a fundo, localizei alguns ex-alunos: Neco Félix, Tobias Amorim, Nelson Almiro, Salomão, Aristides, Eugênio Inocêncio, Bernadino Barreto, Zé Lucas, Zequita e outros. Ao relembrarem da Escola de Pesca, as emoções ficaram em evidência porque foi uma boa convivência, aprenderam muitas coisas a respeito das atividades pesqueiras, das tecnologias, mas também de convivência e de outros aspectos culturais que no nosso município ainda não tinha.  Desses nomes, a maioria voltou para o ritmo da roça. A saudade da família era o que mais angustiava a todos. Só alguns se engajaram na pesca profissional. Tobias Amorim, da praia da Caçandoca foi um deles. Por muitos anos fez parte dos embarcados em uma baleeira; depois, num atunzeiro, encerrou a sua carreira de pescador.
                Foi na pesca do atum, num barco de pesca japonês, que Tobias permaneceu por mais tempo. Quase que espontaneamente aprendeu o idioma japonês, inclusive escrevia inúmeras palavras. Mais tarde, quando sentia saudade de seu antigo patrão, da convivência e de alguns hábitos, o experiente pescador, formado na Escola de Pesca da Ilhabela, se deslocava até a Colônia dos Japoneses do Saco da Ribeira. Ficava à vontade entre eles. Conforme dizia, era “uma forma de continuar ‘arranhando’ o japonês”. Só nunca quis aprender a lutar sumô porque achava o traje muito escandaloso.

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