sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Dez anos depois





               
Nesta semana, em 1º de dezembro, foi o aniversário do nosso caiçara Mané Hilário. Fui visitá-lo por volta das onze horas, pensando que o encontraria acordado, mas... só pude contemplá-lo no seu pesado sono. A comadre me informou que agora ele está ficando menos tempo na cadeira, está dormindo mais, mas tem muitos momentos de lucidez. Até pediu uma festinha de aniversário, com cantoria se possível. Isso demonstra que, apesar dos efeitos colaterais dos remédios fortes que toma, o bom velhinho continua sabendo o que quer, tem clareza daquilo que está ao seu alcance.
                Voltei no tempo. Há dez anos, por ocasião da entrevista que gerou o artigo publicado na Enciclopédia Caiçara (Vol.4), assim disse o nosso personagem querido:
                “Eu sou de 1908;  1º de dezembro de 1908. Eu nasci numa casa na rua Dr. Esteves da Silva [...] Dancei muito baile. Onde tinha baile eu tava rente. Hoje não posso mais; a perna não ajuda. Hoje eu gosto de vê. O coração dá umas mordidas, mas...o que vou fazê? Não posso mais, né? O que os olho não vê o coração não sente, mas eu gosto de tá olhando. E... tudo acaba!”. Ou seja, aos 93 anos, naquela ocasião, o Mané Hilário já aceitava numa boa as limitações do corpo. Imagine hoje, aos 103 anos!
                Parabéns às pessoas que fazem de tudo para que o nosso pescador descanse enquanto os ventos cantam no traquete. Fica a certeza de que muitas coisas jamais saberemos e que existem muitos fios soltos cujas pontas não poderemos nunca achar.

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