segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Estranhas coisas no céu

(Painel produzido por alunos da escola "Sueli"- Estufa-2011)
                No ano de 1963, mais detalhadamente falando, no final de outubro daquele ano, alguns caiçaras morreram no mar devido a um forte vento. Vários deles eram da praia Grande do Bonete, inclusive o finado Ismael (que era marido da dona Isabel, "gente dos Rozeno"). Lembrei-me disso e o que aconteceu naquele tempo após um sonho onde redes, parentes, chuva torrencial e desespero se misturavam. Foi o que me fez recordar de uma conversa entre a vovó Eugênia e a estimada dona Isabel, em 1969, por ocasião da festa de São Sebastião, festejado pela comunidade daquela praia em janeiro. Assim é cabeça de criança: parece não estar nem aí, mas está sempre captando tudo, registrando em sua fresquíssima memória.
                As duas amigas conversavam olhando para a carranca que se armava no céu. Parecia que ia estragar o bate pé tão aguardado para depois da novena. Para esse fim estava preparada a grande sala assoalhada do João da Vargem. De repente a dona Isabel começou a chorar e a contar de um fato triste ocorrido há mais de seis anos: a tormenta que matou o seu amado e tantos outros pescadores. Entrou  em detalhes do forte vento, quando nenhuma bananeira ficou em pé; mostrou com as mãos as grandes ondas que varreram os ranchos de canoas do jundu. Disse que tudo lembrava o fim do mundo, quando, de acordo com os mais antigos, deveria acontecer um segundo dilúvio. Assustador, capaz de traumatizar facilmente qualquer um, principalmente crianças. Imagine eu!
                Porém, me recordei hoje de um detalhe daquele dia distante: a dona Isabel disse que em meio à situação terrível, coisas estranhas passavam pelo céu. Eram luzes redondas que iluminavam como se procurassem alguma coisa na terra. “Fachearam tudo desde o morro até a praia. Pelo menos duas delas chegaram bem perto de nós, neste nosso lugar. Deu para ver que eram máquinas tão brilhantes como peixe espada. Temi pela nossa gente que atravessava a inundação e buscava segurança nos morros. Rezei para que não me enxergassem na minha casa, bem aqui debaixo deste cambucazeiro. Até hoje me arrepio quando tenho recordação daquela noite. Depois sumiram no céu. De onde vieram voltaram!”.

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