quarta-feira, 30 de março de 2011

Carta em rosa e branco de tinticuia

                  As tinticuias estão floridas, marcando o final do verão (ou, se preferir, o tempo quaresmal). Elas também são chamadas de manacá da serra e de quaresmeira.
         Até bem pouco tempo, no cotidiano caiçara, quando a produção de farinha de mandioca, além da sobrevivência ainda garantia a subsistência, o pau da tinticuia, juntamente com caneveteiro, imbaúbas e outras árvores de crescimento rápido, características de áreas em regeneração, eram preferidas para alimentar os fornos ainda nas madrugadas. Deles saíam farinha, beijus, bolos, milho assado e quirera.
         Lenhar fazia parte do cotidiano. Até se viajava em canoas a outras praias em busca de boas lenhas. Vivi  muitas ocasiões de mutirão para tal tarefa. Qualquer árvore seca era pau de lenha. Em todo quintal, geralmente perto da porta da cozinha, onde ficava o fogão, localizava-se o rachador de lenha rodeado de cavacos de pau. Era uma tora resistente deitada que recebia a madeira a ser cortada. Quase sempre ostentava um machado cravado numa das extremidades como uma tentação, se convidando  para ser usado. Lembrava, recorrendo à literatura inglesa, a espada encantada enterrada na pedra à espera de Arthur, o futuro rei. Por isso que acontecia muitas vezes de passantes pelo terreiro (ou cisqueiro) se exercitarem gratuitamente, além de contribuírem com algumas achas de lenha. Nisto adiantava o lado de alguém, era solidariedade. Em troca, às vezes, até aceitava um “gorpe de café intirume”.
         As tinticuias estão floridas!
          Na serra, a partir de quem olha do campo do Horto, é possível notá-las delineando o antigo traçado da via de acesso aos lugares de Serra Acima. Só de longe ou de cima as divagações se manifestam. Então vemos tropas de cargas, estafetas, tráfego (e tráfico!) de cativos. Lembramos a lenda da Cruz de Ferro, onde Dorinho vingou-se pelo velho pai.
         Virando a serra, onde as matas se regeneram, ondas e mais ondas de tinticuias embalam os viajantes. Olhares devoram tamanha beleza!
         Porém, inveja mesmo eu tenho do Roberto e da Cristina que, sossegados à mesa, num sítio em Natividade da Serra, desfrutam de uma “colcha de tinticuias” maravilhosa no morro defronte. Ontem, 29 de março, foi o aniversário do Roberto. Parabéns! Muitos caiçaras agradecem pelos auxílios médicos deste casal.
         Da terra da maresia mandamos um grande abraço. Até Breve!

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