sexta-feira, 19 de julho de 2024

ADELINO, O FARRISTA

Rosas no morro - Arquivo JRS


      Havia muita gente se ajuntando na beira do mar, pelas pedras da costeira e no cimento do cais. É quase outro dia, outro ano que vai se acabar. Em minutos outro começará. Logo chega o aguardado momento da contagem regressiva: 9...8...7...6...5...4...3...2...1 - Feliz ano novo! (Mas saiba que tal momento se passou há décadas. Só os votos e muitos desejos continuam se repetindo).

  Como toda festa, muitas pessoas se abraçam e se beijam. Beijos estes que, certamente, a maioria, não terá futuro. Fogos alumiam o céu, enchem a escuridão em estouros variados, barcos atroam suas buzinas, partem mar afora pelo meio do nevoeiro. "Quantos marinheiros estarão abraçados às suas sereias?".  Assim pensava Adelino, da praia Grande do Bonete contente por estar entre tantas moças bonitas e jovens no lagamar. “É mulherengo sim”, afirmava a vovó Eugênia. “Gosta de festa, de farra com mulheres. Não perde um carnaval, se enfeita todo e cai na folia”. Sim, ainda era parente nosso, gente do Cedro e de outros pontos que se mudou há muito tempo para a praia vizinha. Era bem difícil de não ver o Adelino animado em todas as ocasiões. Ah, como eu gostava de conversar com ele! Gente boa de prosa estava ali. 

    Mas...voltando ao nosso presente...é tempo de festa porque a vida continua. O que é inútil fica para trás; eu acredito que a mente se abre sempre para o bom que possa vir. Agora, depois de décadas, reconheço a vitalidade daqueles momentos, da gente nova que éramos. Neste momento, vida que segue, é a velhice que toma a frente, levando ao tempo final, quando nem a cabeça e nem as pernas terão energia para festejar. Se aproxima a minha porção última,  bem longe do princípio trazido pelas mãos da parteira, da vovó Martinha, na praia do Sapê. Assim o nosso ser vai deixando de ser. Agora estou a escrever de gente que se foi? É sempre assim na maioria das vezes! Confirma o dizer de que “os vivos se valem dos caminhos dos mortos”. A cada novo momento de escrever penso em minha gente querida. Isto me é hábito a cada espera de alvorecer: lhe desejar um feliz raiar de dia e de realizações. Basta por aqui!

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