sexta-feira, 17 de novembro de 2023

RIBEIRÃO DO TEMPO

 

Casal de tangarás - Arte da prima Giovana


      Santiago, da janela, olhando o tempo, dedilha a viola, escreve e desfruta a natureza enquanto a panela está cozinhando uma das nossas iguarias. Nesse ambiente nasce Ribeirão do tempo. Escolhi os tangarás porque eles abundam pelas matas, simbolizam a nossa terra. Gratidão à Gi e ao Santi, nossos artistas. Abraços.

 

Cheiro de terra molhada

chuva que cai no quintal

quando vai findando a tarde

e o sol longe se vai

Bate no peito uma saudade

da velha vila rural

Canteiros de flores

que a mãe cuidava

e as roupas brancas no varal

parece que acenavam

um longo adeus aos barcos

No vento azul

que de mansinho

trazia a noite para o terreiro

onde a viola e o violeiro

cantavam o mundo

as histórias e os mistérios do sertão.

Café no fogão de lenha

paçoca no pilão.

A lembrança que incendeia

a fogueira e acende o lampião

Os dias passavam lentos

mas não tinha pressa não

Quando menos se apercebe

já passou um ribeirão

pelo arco da ponte

de tantos anos vividos

marcados no tic tac

do velho relógio

da estação

Mas nas águas da memória ficaram

A mãe e o pai.

Não volta mais

aquele sonho e aquele mundo

ficou pra trás.

Parece que um dia na infância

eu mergulhei no ribeirão do tempo

e ao sair

já não era mais menino e cresci

e ao redor cresceu o mundo também

e muitas vezes eu me perdi

na imensidão da vida e da ilusão

E as coisas que eu aprendi

não sei se é muito

não sei se é pouco

mas é o que tenho até aqui

Nesse caminho

eu traduzi toda distância, toda ausência, toda saudade

na melodia de uma cadência

na solidão da  viola

na beira do mar

2 comentários:

  1. A janela em Camburi segue olhando o ribeirão do tempo e escrevendo... Grande abraço, mestre!

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