sábado, 11 de abril de 2020

NO MESMO MAR, MAS EM DIFERENTES EMBARCAÇÕES

Estampas (Arquivo JRS)


                Estamos sujeitos a todos os contágios. Nós todos! Pode ser uma doença causada por seres microscópicos que se espalham pelo ar, ou uma ideia diferente que, de repente, surge no horizonte das nossas reflexões. Pode ser qualquer coisa! Por exemplo: a noção de justiça. Nesses dias, vivendo uma pandemia, vemos atitudes que, declaradamente, objetivam a exterminar os mais pobres, os marginalizados que "impedem" os lucros de uma minoria. É assim, bem declarado! Por isso os centros de atendimentos aos moradores de ruas e usuários estão sendo desativados, com violência policial aos que resistem às ordens das autoridades. Por isso também que os postos de assistências aos indígenas estão sendo desativados, que os médicos contratados de outros países foram mandados embora etc. E o que dizer dos auxílios milionários imediatos aos banqueiros e grandes empresários, enquanto que a quantia vergonhosa aprovada como esmola aos mais necessitados vai se esbarrando em barreiras ridículas, em argumentos falaciosos? Quem não vê que a justiça tem lado, que as injustiças grassaram porque o país agora tem um ser maldoso liderando, no comando porque uma potência externa assim direcionou? Quem votou no presidente que, desde sempre, estimulou o ódio contra as minorias deve se sentir culpado. Quem deixou de votar também tem parceria nisso porque deixou de sustentar um lado melhor. Os que sustentam esses absurdos governamentais até hoje são mais responsáveis ainda pelo retrocesso nas condições sociais tão notórias!

                Na nossa realidade de Ubatuba: onde erramos ao ver pobres migrantes sendo contra eles mesmos, contra irmãos mais pobres ainda? O que deixamos de fazer para chegar a esse ponto de tantos caiçaras serem tão tontos, apoiando as maldades institucionais que se fortaleceram? Atitudes assim vão afastando famílias, matando os laços de pertença a um grupo social e enfraquecendo a cultura. Não foi assim que a religiosidade indígena, totalmente atrelada aos valores da vida comunitária, foi apagada de nosso mapa cultural? Meu tio querido diz que estamos distantes agora, "um pouco longe um do outro". É verdade mesmo!  Seus filhos, ao votarem nessa coisa que aí está, compactuam com princípios de ódio, apoiam valores desvinculados da nossa raiz cultural e afirmam que o sucesso da economia é mais importante que as vidas a serem perdidas na atual pandemia. De onde vem essa formação? E continuam sendo católicos! Não, não quero estreitar distâncias com ideais assim! Imagino que, caso haja a possibilidade de questionamento, certamente ouvirei: “É a modernidade, Zezinho. Ela dificulta o diálogo. Tem que ter amor, ser paciente”. Se as condições para o diálogo é a negação do outro, dos injustiçados; se é a aceitação do abandono da justiça (porque a economia, o bem-estar de uma minoria deve prevalecer), eu me recuso até mesmo em reencontrar aqueles que são galhos da mesma árvore. Somos capazes de ser divinos. (Muitas ações, sobretudo nestes dias angustiantes, merecem gratidão e devem se reproduzir). O desafio é peregrinar em direção a uma divindade humilde. Esta sim nos livrará da violência entre irmãos e reavivará nossa fraternidade.  É isso que deve contagiar toda a Terra!


Ainda há esperança (Arquivo JRS)


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