domingo, 12 de abril de 2020

A RIQUEZA DAS PRAIAS

          
Imagens do Guia de Turismo (Arquivo JRS)


Perequê-açu, no Guia de Turismo (Arquivo JRS)


    Eu já nasci com o advento do turismo em Ubatuba, quando os primeiros loteamentos se consolidavam em torno do núcleo urbano e até mesmo em praias distantes (Maranduba, Lagoinha, Lázaro, Enseada e Tenório). As primeiras casas de veraneio, várias com um estilo arquitetônico modernista segundo o estudo do grande amigo Carlos Lunardi, se mostravam entre o verde dominante. Quem tinha mais condições, entre os da terra, construíam casas para alugar aos turistas nesse tempo. Assim despontaram os "ricos" caiçaras. Hotéis eram alguns, pousadas nem sei se havia. Bem, tinha a Pensão do Maestro ao lado do Casarão do Porto, a do Braga, ao lado da Farmácia do Filhinho, mas nada comparável às acomodações de hoje. A do Braga, por exemplo, era a sua própria casa que servia mais para abrigar alguém que precisava ficar no centro da cidade a fim de aproveitar os festejos regulares. Quando estávamos sedentos, zanzando por ali, o Braga era o nosso socorro: "Dá licença, Seo Braga? Posso tomar água?". A mamãe, em tempo mais recuado, dizia: "Eu ficava, em época de festa, na casa da prima Margarida, que nasceu no Corcovado, mas morava na rua Maria Alves, quase na esquina da máquina. Ali era a entrada da cidade para quem vinha pelo Morro da Berta".

             O guia de turismo da década de 1950 dá destaque para as praias do Perequê-açu e do Itaguá: eram as mais frequentadas. Já na década de 1970, as mais distantes - Lázaro, Perequê-mirim e Enseada faziam sucesso. Por isso que a primeira linha de ônibus, visando atender a demanda turística, circulava até a praia do Perequê-mirim (distante mais ou menos nove quilômetros do centro), nos seguintes horários:  partia do centro da cidade 8:00 e 14:00 horas; voltava do bairro 11:00 e 15:00 horas. E só! Em 1970, foi inaugurada a linha até a praia do Lázaro. Quem precisasse ir mais distante, precisava embarcar no intermunicipal, com preços diferenciados conforme a distância. Um cobrador, devidamente "fardado e equipado" desempenhava esse papel. 

             A nossa riqueza eram as praias. Foram elas que motivaram a abertura de estradas com as vizinhas Taubaté, Caraguatatuba e Paraty. A partir do turismo veio o desenvolvimento da pesca, da lavoura para atender as demandas até da capital paulista e da construção civil. Meu pai, pedreiro e carpinteiro, bem dizer passou a vida nisso. Ele e tantos caiçaras! Só a partir de meados da década de 1960, começaram as migrações de cortadores de pedra e de operários para as obras. A partir de 1975, elas se intensificaram. Surgiram mais loteamentos, mais prédios, mais hotéis, a BR 101... Vieram as ocupações desordenadas, as aberturas e melhorias das estradas municipais... "Chegou o progresso", como diriam alguns.

             Devido à ganância, ao querer levar vantagem, a falta de instrução e a omissão do poder público, as irregularidades foram se tornando regras: acaba-se com mangues, constrói-se em morros, joga-se esgotos nos rios, destrói-se jundus, ocupa-se áreas impróprias etc. Enfim, hoje a nossa maior riqueza é questionável. Qual praia eu posso entrar, aproveitar bem sem nenhuma preocupação, sobretudo no que diz a respeito de esgotos? Como amenizar, corrigir a situação degradante que se instalou? Como recuperar nossa maior riqueza?

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