domingo, 22 de setembro de 2019

MEUS TIOS E MINHAS TIAS

Início da década de 1970 -  Retiro no Sertão -  Casa Emaús   (Arquivo JRS)


               Depois de ter passado quase sessenta anos nesta Terra, neste território caiçara, sou testemunho de muitas histórias da minha gente e de pessoas de outros lugares que aqui chegaram e se tornaram minha gente também. O Dito é um caso desses: nasceu em Santo André (SP), passou pelo distrito de Vargem Grande (Natividade da Serra) e “deu um escorregão na serra” até o Sertão da Quina (Ubatuba). De acordo com ele, “vim com a roupa do corpo, ajudando a trazer umas cabeças de gado até o Sertão, mas o que era para ser coisa de um fim de semana apenas, dura até hoje”. Agora, bem recentemente, eu lhe lancei o desafio de escrever a respeito da sua vivência (aproximadamente 40 anos) entre os caiçaras, convivendo com os Pais e Mães do Sertão (João Rosa, Catarina, Quito, Terezinha, Emídio, Fonfom, Guido etc.). “Ah! Pode deixar! São todos meus tios e minhas tias”. E assim...


               Homenagem aos meus tios e minhas tias

               Homenagear pessoas que nos foram boas é bem tranquilo, se torna mais fácil ainda quando elas já não se encontram entre nós. (Pelo menos visíveis e palpáveis). O motivo é simples: nós só temos ideia do que foram essas pessoas quando as perdemos.

               Falar das pessoas mais velhas do Sertão da Quina é muito prazeroso, pois a bondade dessas pessoas foi e é além do normal. Normal, que eu digo, é porque hoje as pessoas só se preocupam consigo mesmas e/ou com seus parentes próximos. (Coisa que nunca aconteceu comigo em nenhum momento desde aqui cheguei). Só tenho lembranças boas desses senhores e senhoras que me acostumei a chamar de tios e tias. Gente dessa terra que me recebeu como filho da terra, como se fosse um deles. Alguns, quando eu os cumprimentava, a resposta era: ‘Deus te abençoe, meu filho’. E lá ia eu todo contente, pois sabia o quanto era sincero.

               Falar individualmente é muito difícil porque tenho medo de ser injusto. Graças a Deus eles são muitos! Tenho histórias com todos esses meus queridos tios e tias. E todas boas! E são tantas que, se eu puxar pela memória, se tornam temas para um livro. (Quem sabe um dia!). Por enquanto vou falar de todos aqueles que, de alguma forma, me ajudaram a amar esse lugar, e, por que não dizer, essa cidade?!?

               Muitas vezes pensei em ir embora, porém bastava quinze minutos de papo com um desses meus tios e tias, e, pronto, desistia. Recebia conselhos dos mais diversos; hoje eu sei o quanto foram bons. Chego a dizer que alguns salvaram a minha vida. ‘Meu filho, tende paciência, tenha fé que tudo se resolve’. Perdi a conta de quantas vezes ouvi essas palavras. E, o melhor de tudo, é que eles estavam certos cem por cento das vezes.

               Quantas e quantas vezes, meio sem rumo, sem nada para fazer, de repente ouvia o seguinte: ‘Vamos almoçar lá em casa, tem azul-marinho...’. Ou então: ‘Vamos lá tomar café. Tem cará, tem banana da terra, mandioca, batata doce ...’. E tantas outras delícias que só quem conhece sabe o quanto é bom. Por essas ou outras coisas é que eu aceitei escrever essas poucas palavras, insuficientes para expressar minha gratidão por essas pessoas (meus tios e tias) e por essa terra que me adotou.

               Obrigado, Sertão da Quina! Obrigado, Ubatuba! Obrigado por terem me dado meus tios e minhas tias!
                                                                                                                                             Bendito Evangelista Filho (Galo)

2 comentários:

  1. Bom dia!!
    Meu bisavô era o Leopoldo Felix lá da caçandoca será que somos parentes??
    vc tem alguma foto deles?
    seria de grande valia pra mim!!

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  2. Sim, somos parentes bem próximos. Seu nome é?

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