sábado, 7 de setembro de 2019

BRASIL DOENTE

Mural  na Cocanha (Arquivo JRS)


               Cheguei cedo, como é costume, para trabalhar. Estando quase na frente da creche, vejo um ajuntamento de gente e paro porque a minha colega, que também vem de longe, está discutindo com alguém. É uma das mães; naquele momento elas estão buscando as crianças (por volta de três ou quatro anos, se não estou ruim de cálculo) no final do período. A Nice, especialista em educação especial, argumenta sem se exaltar, mas a outra está enfurecida, xingando horrores. Entro na discussão, ou melhor, tiro a minha amiga, pois é inútil perder tempo com determinadas situações, sobretudo quando temos ainda um período de trabalho pela frente que exige muita paciência (lidar com os filhos dos outros não é fácil!). Saímos dali deixando a mulher quase espumando. Lembrei-me das palavras do professor Karnal: “Todo violento é um covarde”. E, sentados mais adiante, sob um ipê todo rosado, já jogando suas pétalas nos passantes, exigi: “Me conta”. E ela, ainda soluçando: “É o seguinte: eu estava passando por ali quando escutei a mãe perguntar assim para a criança, que parecia ter uns três anos: ‘O que a vagabunda da sua professora ensinou hoje?’. Eu não me contive, não quis acreditar que tinha ouvido aquilo. Parei e quis que ela me ouvisse, afinal, há quinze anos sou professora de crianças, de adolescentes bem especiais. E ela já foi xingando, nem deu bola para o que eu falei. Baixaria, Zé. Foi isso”.

               Tristeza, né? Conforme o já citado professor, que em outros tempos, após o período das aulas, ao anoitecer, ainda se dispunha a tirar do piano suaves melodias para nós: 

      “Professor é o ser da trincheira, sobretudo do ensino fundamental. Esse professor é um herói. Se o Brasil continua existindo, é porque ele existe. Sem essa frente de trabalho que é o professor, o país se desintegra. Apesar dos péssimos índices que temos hoje, as coisas só não estão piores porque os professores não ‘jogaram a toalha’. Como estimular alguém numa trincheira? Eu sei que é quase insuportável. É muito difícil. É um milagre alguém trabalhar nas condições que temos hoje na educação”. 

            Mas eu, amiga Nice, sei da sua força que se junta à minha e a de tantos.  Essas forças, elas são libertadoras. Creio que só a educação liberta! Infelizmente, conforme atesta a mãe sem educação, que vai conduzindo a criança pelo mesmo caminho, este país despreza a educação. Com gente assim, o que será do espaço ubatubense, da nossa sociedade? O que será do Brasil?

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