domingo, 4 de agosto de 2019

TÁ FRIO

Jabuticabas do quintal (Arquivo JRS)

Maria Eugênia (Arquivo JRS)

Estevan (Arquivo JRS)



               “Frio e chuva casamento de viúva”. Adoro este clima e este silêncio da manhã após um café com tainha e farinha de mandioca. Faz me lembrar de muitos momentos, de outros tempos, quando não tínhamos pão tão acessível como hoje, e, logo cedo, antes do clarear total, sobre as brasas do fogão, bananas e peixes eram assados. “Era comida de sustância!”.  E eu acrescento: sem nenhuma droga de conservante, dessas mirabolantes misturas químicas impostas pela indústria.

               Hoje eu acordei ao pé da jabuticabeira, colhendo as frutas sob chuva fina. Tem coisa melhor? Tem sim! Saudades dos meus que já estão prontos, longe daqui, para as aulas deste semestre.

               Nossos filhos são nossas razões para viver de forma coerente, pensando no mundo que exige mínimos gestos em sintonia com a necessidade de importantes passos. “O mundo tem jeito”, já dizia a Tia Sebastiana (Tiana). E continuava: “No meu tempo era mais difícil, meu filho. Hoje tem como se informar, tem como ler de tudo. Tendo mais conhecimento, você tem mais amigos e mais alegrias”. A titia tinha razão. A fala dela, mesmo depois de tantos anos, mantém uma feliz memória dessa saudosa caiçara natural da praia do Pulso.

               Estava falando da mensagem da Tiana para uma professora, relembrando uma pesquisa de mais de cinco anos atrás que mostrava uma triste verdade: “O professor brasileiro, após se formar, lê pouco. Setenta por cento deles não lê um livro por ano”. Triste, né? A minha interlocutora concordou prontamente: “Eu acho que é verdade mesmo. Eu mesmo leio um livro por ano. No ano passado eu li a biografia de David Copperfield. No ano anterior eu não consegui terminar de ler um livro interessante”. Confesso que demorou alguns segundos para que eu me lembrasse desse famoso ilusionista. Qual terá sido o tal livro interessante? E ela continuou: “Agora, no segundo semestre, espero terminar de ler um livro. Por sinal, ele está comigo, na minha bolsa!”. Quanta sinceridade! Não é triste?

               Hoje, dia chuvoso e friorento, está muito convidativo para me aplicar à leitura. Você também concorda?

              Você se lembra daquela brincadeira "Tá quente, tá frio"? O mundo tem jeito sim, Tiana! Mas quando comprovamos professores lendo tão pouco, podemos quase gritar: "Tá frio, frio, frio...". Não ter falado mais à dita professora me deixou arrependido, sentindo um gosto azedo de covardia.

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