sábado, 29 de junho de 2019

ESPERE SÓ!

Barcos enfeitados (Arquivo JRS)


Procissão marítima (Arquivo JRS)

Entrada da barra (Arquivo JRS)

            No dia 29 de junho, em Ubatuba, os pescadores celebram a festa de São Pedro Pescador. Barcos enfeitados... muita gente embarcada... e mais gente ainda na praia e na boca da barra, por onde entra e sai embarcação a todo  momento! Numa das embarcações, comandando a procissão marítima, segue o padre com a estátua do santo e a comitiva católica. Depois da benção dos anzóis no mar, lá no largo, todos retornam à terra firme para a missa campal. É a religiosidade popular contribuindo para a vida da cidade, alavancando o turismo. Pobres daqueles pescadores que não participam do evento, que não enxergam além daquilo que a crença oferece.

            Religião é manifestação cultural. Tudo (mitos, deuses, demônios, crenças etc.) pertence à cultura humana, faz parte de um saber acumulado ao longo da História que nos permite viver no coletivo de até mesmo milhões de pessoas. Tudo partindo de narrativas, de mitos a nos unir, fundamentando nossas disposições políticas, nossas agremiações religiosas, nossos rumos econômicos etc. Ou seja, as ficções nos edificam enquanto humanidade.

            Antigamente, era nas rodas de conversas que essas ficções se lapidavam. Hoje, as mídias diversas são eficientíssimas, sobretudo para modificar mitos que não estão em conformidade com os rumos de uma elite da sociedade. Qualquer um de nós conhece alguém que não é da elite, mas adotou o discurso da mesma. Por quê? Porque, na sua mente, operou uma manobra eficiente, capaz de controlar o seu corpo a favor de uma causa insana. Ou seja: ele foi dominado pelo discurso da classe dominante (que divide os empobrecidos para manter-se no domínio). Corpo e mente estão sob controle. E a religião enquanto instituição social é aliada dessa classe. Pode até existir facções teológicas libertadoras, mas elas não se expandem como o conservadorismo reinante, que alimenta a “moral de rebanho”. As religiões, creio eu, jamais irão endossar o mito da soberania do povo. O resultado mais evidente é o governo que aí se encontra, com atitudes e discursos que podem desembocar em guerras com o apoio de tanta gente religiosa. Já vimos tal situação em outras épocas (guerra santa, cruzadas, perseguição religiosa etc.).

            As igrejas, que se baseiam em mitos religiosos partilhados, não poderiam reconstruir suas ficções com narrativas em torno de cooperativas, de investimentos em preservação ambiental, em recuperação da vida  marinha e de outras iniciativas em prol da maioria marginalizada? Não poderia o evento divulgado no início deste ser uma festa de todos os pescadores, de ser espaço celebrativo de suas vitórias e lutas pensando, sobretudo, nas futuras gerações?

            Conforme já disse um historiador, “há apenas escolhas culturais, dentro de um conjunto assombroso de possibilidades”. Não espere só!



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