domingo, 2 de setembro de 2018

A DANÇA DE MOÇAMBIQUE

Evolução em Moçambique  (Arquivo JRS)

Viva a resistência! (Arquivo JRS)


              
               Dias atrás, a partir de um convite especial, eu e minha esposa fomos até a cidade de Paraibuna para assistir uma Dança de Moçambique.

               Moçambique, a dança, é um bailado popular. Com pessoas numa indumentária própria, simples, com guizos nas pernas ou nos tornozelos. Ela se desenvolve numa coreografia bem movimentada, em filas ou arabescos, agitando, entrechocando os bastões, em lutas simuladas ou seguindo o desenho convencional, estrelas ou escadas, provas de equilíbrio, precisão e segurança, ao som, geralmente, de tambor, violão, rabeca e pandeiro. Vem do tempo dos escravos. Portanto, suas raízes estão na África. Por ser uma cultura popular, uma forma de resistência, foi nacionalizado, se adaptou à religião católica, ou seja, compõe a raiz da religiosidade popular brasileira. Então, pela origem negra, naturalmente honram São Benedito e Nossa Senhora do Rosário, com letras da devoção popular. Lembremos que só assim os ritos dos negros, as  tradições africanas eram tolerados. Por isso que muitas vezes o bailado se apresentava como cumprimento de promessa. A vovó Martinha dizia: “Os pretos da Caçandoca dançavam o maçambique sempre”. Além da vovó, ouvi de muitos outros velhos caiçaras a denominação de maçambique. O saudoso tio Aristides, quando jovem, participava do grupo de moçambique do bairro da Estufa: “Eu dançava. Também dançavam o Tobias, o Ditão... Acho que até o Antônio fez parte daquele grupo. Tempo bom!”.  Até 1980, a Maria Charlot animava um grupo de dança semelhante no bairro do Taquaral. No centro da cidade, no coração de Ubatuba, o mestre moçambiqueiro era o Modesto. Não é preciso dizer que todos eram negros, descendentes de escravos que um dia foram arrancados da Mãe África, tal como a minha tataravó que viveu essa condição na praia do Lázaro.

               Ao assistir uma evolução dessa manifestação popular, você consegue ver além daquilo que se mostra, voltar no tempo para enxergar os negros se exercitando, ensaiando defesas e ataques no terreiro da senzala ou pelas capoeiras. Eram estratégias que alimentavam a resistência frente às agruras do Brasil que manteve por quase 350 anos a escravidão negra. Por isso que é triste escutar alguém dizer frases do tipo: “Quem disse que os descendentes dos escravos merecem reparação?”, “Eu sou contra a titulação de terras quilombolas” etc.

Quer ver uma mostra do grupo de Paraibuna? Então lá vai: https://www.youtube.com/watch?v=MkTditXI3Hw

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