sábado, 25 de julho de 2015

NÃO DEVERIA SER ASSIM

Vovô Armiro posando na bicicleta (Arquivo JRS)

                O meu saudoso avô José Armiro, que aprendeu a ler no começo do século XX, na Praia da Fortaleza, assim que via algo mal feito, que afetava as pessoas e a natureza, dizia: “Fulano faz assim porque não aprendeu o que é certo. É tudo questão de educação”.
                O meu saudoso avô José Armiro, que poucas páginas de um livro leu em toda a vida, fazia a gente pensar em cada decisão a ser tomada, em cada passo que implicava outras pessoas e a nossa felicidade.
                O meu saudoso avô José Armiro, quem nunca imaginou um dia existir computador, internet e todas essas novas tecnologias, fazia de tudo para viver bem em sociedade, de interagir com todo mundo.
                O meu saudoso avô José Armiro, em dias chuvosos, quando não se podia ir ao roçado e nem pescar, olhava a gamela de peixe sapresado, os balaios de peixe seco, a barrica cheia de farinha de mandioca, o café seco estocado, o bananal viçoso em torno da casa e tantas outras benfeitorias no entorno e dizia assim: “Agora, com tempo assim, é só comer o que se ganhou atrás”.

                O meu saudoso avô José Armiro, conforme eu já contei em outra ocasião, quando lhe  perguntávamos, ao se deparar com um casal nitidamente desigual em beleza (exemplo: uma moça linda e o moço pouco atraente), qual a razão das coisas serem assim, com estranhas escolhas, ele prontamente arrematava: “Quem há de resistir quando a comichão sentir?”.
                   O meu saudoso avô José Armiro, se visse determinado adolescente, filho de um "oportunista iluminado" capaz de infernizar até mesmo as plantas da calçada, correndo pelo telhado atrás de pipa, depois de elegantes palavrões, diria: "Eu não falei que tudo é questão de educação? Não é quase certo que só resta ao infeliz seguir o Caminho das Antas? Encontrar uma via diferente dessa só se o camelo passar pelo fundo da agulha!". Pode ser, mas não deveria ser assim.

Em tempo: Esta é uma obra de ficção. Qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência.

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