quinta-feira, 9 de abril de 2015

UM CAUSO DO EUGÊNIO – PARTE I

               

       O presente texto surgiu de uma  tarde  bem  nublada,  sob uma amendoeira, na Praia  da  Cocanha,  em  Caraguatatuba.  Neste ano (2015),  por  descompasso  nos horários,  terei   muitos   momentos assim. Que sacrifício!
                Por vezes me pego pensando nas pessoas que leem as coisas de caiçara. Me pergunto se não é muita pretensão minha esperar dos leitores o máximo de entendimento do contexto caiçara, das malhas dessa cultura que se produziu ao longo do tempo.  Decidi. “Deixa isso de lado, Zé!”.
                Vou continuar escrevendo a partir das inspirações que me sensibilizam, das recordações que valem a pena.
                Agora, daqui da areia, olhando a Ilha da Cocanha, uma parte da Ilha do Tamanduá, a Ilha dos Búzios e a maior parte da Ilhabela em névoas, penso nas minhas pessoas queridas que estão em casa enquanto escuto o mar que me remete  a um fragmento de uma poesia da Cecília Meireles:

                O mar, de língua sonora,
                sabe o presente e o passado.
                Canta o que é meu, vai-se embora:
                que o resto é pouco e apagado.

                Lá no passado, na Ilha da Maranduba, o meu parente Chico Cabral criava suas cabras. Quando eu nasci, outros parentes – os Inocêncio – faziam parte do povoamento da Ilha do Mar Virado, do mesmo lugar de onde saiu num tempo mais distante o Lourenço da Ilha. “Você é dessa cepa, Ostinho!”. Outra ilha -  a do Tamanduá – acolheu a turma dos Mesquitas, do saudoso Aristeu. Muitos outros ilhéus eu poderia elencar. Certamente me emocionaria demais.
                O primo Eugênio Inocêncio, depois do Mar Virado, quase findou os seus dias na Ilha da Vitória. É o responsável pelas tantas “histórias de mar aberto”, depois das ilhas. O sumiço do peixe-lua é uma das que me marcou muito. Assim ele me contou:
                “Na Ponta do Sul, perto do nosso mandiocal, ficava a Pedra da Moreia. Era um pesqueiro bom, dava em lugar bem fundo. Em época de água clara se enxergava longe, se via as lajes profundas. Vez e outra os peixes-luas apareciam, boiavam naquele ponto.

                Peixe-lua é bicho manso. Tem um olho que parece querer enxergar a nossa alma. É manso mesmo! Como eu gostava de contemplar aqueles grandalhões esbranquiçados!”. 

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