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Arte: Gildásio Jardim |
É comum escutar absurdos sempre, sobretudo neste tempo de mentira alçada à categoria de virtude, a elogiar gente desonesta que quer o pior mundo aos pobres. No universo caiçara não é diferente. Quem nunca ouviu besteiras e até mesmo falas odiosas contra negros, indígenas, nordestinos etc.?
Estou lendo uma biografia de Lampião, cujo autor (Frederico Pernambucano de Mello) esclarece um monte de pontos e coloca questões nem sempre tão perceptíveis assim. Por exemplo: “a geografia do cangaço se esmerava em decalcar as linhas secas da geografia da fome na região, oriundas de razões naturais e sociais conhecidas de longa data”. Era realidade há cem anos. E não é assim ainda hoje? Não são essas as principais condições que continuam impulsionando as migrações na atualidade?
No caso dos migrantes nordestinos, depois da Depressão de 1929 a 1934, “se aproveitava o governo paulista para custear a emigração sistemática de sertanejos para os campos de café e açúcar”. Ou seja, o grande estado produtor do Sudeste se elevou ainda mais graças à mão de obra de quem? Só que hoje, haja vista as besteiras que estamos sujeitos a ouvir de “gente de bem”, prevalece um tom de queixa, de repúdio aos descendentes desses que, para São Paulo e outros estados mais ao sul vieram, foram buscados. Essa gente preconceituosa e maldosa, quase sempre a reproduzir narrativas de uma elite que se fez às custas da exploração de concidadãos historicamente injustiçados, arrota “ares de nação invadida pela pobreza indesejável”. A maioria não sabe ou não quer admitir que tal realidade mais endinheirada é decorrente de uma eficiente estrutura montada para aliciamento de braços produtivos de outras regiões e até mesmo de terras mais distantes. Imagine, então, as narrativas contra nordestinos e/ou descendentes que amealharam riquezas no Sudeste e Sul! E o que dizer se um sobrevivente dessa geografia da fome e das desigualdades sociais chegar a presidência do Brasil?
Entrei neste assunto porque cansei de escutar migrantes e descendentes de mineiros, de paraibanos etc., vizinhos meus, se aproveitando da miséria alheia, mas falando mal dos pobres do nosso lugar, quase sempre pessoas vindas dos mesmos lugares que eles para tentar vida melhor em Ubatuba. Quem lucra mais com essa ideologia discriminatória, de racismo, predisposta a se aproveitar dos outros e a não ter nenhum respeito pela natureza que nos circunda e é a nossa maior riqueza?
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