domingo, 6 de abril de 2025

A CASA

 

Uma casa na cidade - Arquivo JRS 

   Me detive na praça 13 de maio com imagens de Ubatuba de outro tempo. A primeira delas foi quando o estimado professor Osmildo, que  aguardava no final da linha dos ônibus, nos levou até o seu apartamento, no edifício Andorinhas. Era meados da década de 1970. Lá conhecemos sua reduzida família, tomamos café. Depois ele nos conduziu ao ginásio “Deolindo” e fez nossas matrículas para a quinta série. Éramos dez crianças; morávamos, a maioria, no Perequê-mirim. Nos deslocamos apreensivos os dez quilômetros que distava a nossa escola primária do centro da cidade. Fomos em ônibus circular, sem a companhia de nenhum adulto.  O professor nos matriculou naquela enorme escola, fez a vez dos nossos pais. Ele sabia que só assim era certeza que continuaríamos os estudos.

   A segunda imagem era da casa da Maricarmen. Simples, bonita, com uma oficina onde seu pai exercia o ofício de serralheiro. Seo Zé Marroquino (Guadix) foi o primeiro profissional que eu conheci nesse ramo. Eu achava lindo os portões aparecendo depois de ferros serrados e soldados. Creio que o mais importante trabalho dele foram os lustres que fez para a igreja matriz, sob encomenda pelo frei Angélico, em 1982. Também deste ano é o altar em formato de barco, obra do mestre Jacó Meira.

   Numa noite dessa eu sonhei com aquela casa, só que parte dela estava em ruínas, contrastando com as do entorno da atualidade. Até pensei que ninguém morava ali devido ao estado precário da fachada, mas logo avistei a mãe da minha colega de ginásio. Vi que só ela habitava a casa. Parei para prestar atenção e notei que a oficina ainda existia na lateral. Foi quando eu avistei duas pessoas, guerreiros portando espadas, querendo invadir o espaço. O que fiz? Me coloquei do lado de dentro, no espaço da oficina, e passei a defender o local. Depois que acordei me pus a pensar: Por onde andam a filhas daquele casal tão tranquilo que nos viam sempre circulando por ali, brincando na praça (toda plana naquele tempo!) enquanto esperávamos ônibus? Por que eu defendi a casa dos ataques? Qual a mensagem do sonho?

   Casas antigas e casas velhas, abandonadas, chamam a minha atenção sempre. Diante da casa da imagem postada acima, na cidade de Guaratinguetá,  notei as janelas fechadas por blocos. Imaginei ali moças debruçadas, olhando a movimentação no entorno. Do lado oposto havia um pintor a retratá-las sob o   título:  As moças na janela. Talvez ali morasse umas das Cinco moças de Guaratinguetá,  obra de Di Cavalcanti pintada em 1930.

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