domingo, 14 de maio de 2023

HÁ QUE SE CUIDAR DA VIDA

 


Arte em casa - Arquivo JRS

“Sem negro não pode haver ouro, açúcar nem tabaco” (André de Melo e Castro, conde de Galveias, vice-rei do Brasil em 1739)

       No tempo em que o fumo era um dos principais produtos para a negociação na escravização de negros africanos, Ubatuba e outros locais foram cobrados pelas autoridades designadas por Portugal para a produção desse produto. Em 1776, consta na carta de Martim L.L. de Saldanha para os vereadores da Câmara de Ubatuba:


“Visto que me participam de ter chegado a essa Vila o Práctico, que o Snr. Marquez Vice rey mandou a ensinar a plantar, e fabricar os fumos, devem Vmces executar as antecedentes Ordens...para aumento desse Ramo de Comércio...cuidem, logo em que os Lavradores se sujeitem ao ensino do dito Practico, e lhe dem a porção, e comodo, que lhe ordenei...que somente os dessa Ubatuba o repugnão por seus gênios rebeldes, que saberei domar, e castigar, ainda com concurso do Snr. Marquez Vice Rey, para verem, que nem de cá, nem de lá teram couto...”.


        Pelo teor, parece que os habitantes de Ubatuba naquele tempo se recusavam a acatar determinadas ordens. Mas não era só para o comércio na África que se destinava o tabaco. Também era um produto muito valiosos na região mineradora. No século XVIII, “a vida útil de um escravo em Minas Gerais não ia além dos doze anos. A alimentação era precária, em geral, composta por duas refeições por dia na forma de um angu feito com feijão, farinha de mandioca, charque e sal. Fumo e cachaça reforçavam a ração e eram servidos como recompensa para os trabalhadores mais produtivos ou mais submissos”. Assim afirma o pesquisador Laurentino Gomes se referindo ao período aurífero. Ou seja, desta cidade litorânea saía farinha de mandioca, cachaça e fumo também em direção aos sertões mineiros.

     Segundo a historiadora Maria Luiza Marcilio, aquela pressão sobre os produtores de Ubatuba não obteve muito sucesso: “Mas os roceiros que podiam ter alguns poucos escravos, passaram a integrar o plantio dos fumos em suas roças, especialmente no momento de crise da exportação do açúcar e primórdios da introdução do café (últimos anos do  século XVIII e primeiros do XIX). Já a partir dos anos de 1805, não mais vimos a declaração de colheita de fumo local. O café está em franca difusão”. Outro produto do qual hoje em dia nem se fala mais é o anil, introduzido em nosso município na mesma época do fumo, de acordo com a citada autora: “Em 1798 a produção local atingia 75 arrobas, vendidas no mercado do Rio de Janeiro”. Portanto, é dessa época os casarios que eu tive a chance de apreciar até meados do século XX no centro de Ubatuba. Em Paraty, cidade vizinha, há uma preservação desses edifícios que lhe dá o chame de estilo colonial e atrai muitos turistas. Infelizmente tal preservação não foi preocupação das autoridades ubatubenses de outros tempos. Hoje assistimos o mesmo se dando com o meio ambiente que nos circunda. Lixo, esgoto e ocupação desordenada vão resultando em degradações por todo lado. Se continuar neste ritmo, brevemente haverá “choro e ranger de dentes” pela perda da nossa “galinha de ovos de ouro”.  


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