terça-feira, 12 de dezembro de 2017

DA PROA DA MINHA CANOA

Muro na capital paulista (Arquivo JRS)

Instrumentos no Casarão (Arquivo JRS)

            De acordo com o dicionário, salvaguardar  é tomar medidas para pôr (algo ou alguém) fora de perigo; proteger, defender. O Encontro de Fandango Caiçara em Ubatuba teve este objetivo.

            A salvaguarda do fandango, da canoa caiçara... Enfim, da cultura  caiçara, implica muitos aspectos, tais como: garantia de território, festividade, continuidade dos saberes e das tradições pelas novas gerações, artesanato, religiosidade, técnicas, interação/interdependência com o meio ambiente etc.

            A formação acadêmica, em contato com os sujeitos dessa cultura (caiçara), só poderá ser um reforço, “um biotônico” conforme costuma dizer o Élvio; algo que aumentará e alimentará a nossa resistência, pois poderá nos mostrar outras linhas de reflexão ao mesmo tempo que vai nos apresentando fatos, experiências muitas vezes externas, que contribuem com a cimentação das formas de resistência que  aí estão, fomentando outras alternativas. Foi assim que eu enxerguei as intervenções dos acadêmicos e acadêmicas durante o “Encontro de Ubatuba” neste fim de semana que passou. Dentre as diversas falas, me sensibilizei com a objetividade do Peter Santos Németh, acadêmico da Universidade de São Paulo (USP) que se sentiu despertado a partir da convivência com os pescadores da praia da Enseada.

            “Por volta de 2004, saindo para  pescar na madrugada com o Pedro, notei que rumávamos para a escuridão, na direção do Boqueirão, ao mesmo tempo em que as luzes da Enseada iam desaparecendo. Enquanto a canoa deslizava na água, eu prestava atenção a tudo que o Pedro falava. Era um ensinamento sobre a sua vida, a sua cultura. Foi quando eu acordei para a importância da canoa caiçara. Naquele ambiente, na lida do mar, da mesma forma que o Pedro naquela ocasião fazia comigo, os velhos caiçaras foram passando a cultura para os filhos. ‘Um dia o Pedro aprendeu assim do seu pai e do seu avô’. Cheguei à conclusão que a canoa era o principal veículo dessa cultura. Veículo em dois sentidos: condução nas necessidades e condução da cultura. Veio daí a motivação para puxar um movimento pelo tombamento da canoa caiçara como patrimônio imaterial nosso”.

            Concluindo: a partir da canoa caiçara, da prosa com aquele pescador caiçara e com tantos outros da praia da Enseada, o Peter se viu impulsionado a fazer a sua canoa na USP. Esta sua canoa, esculpida continuamente pelo enxó da reflexão e da vivência junto ao povo caiçara, só tende a alargar os horizontes do Boqueirão alcançado pela canoa de pau. Ah! Agora também leva o fandango embarcado!


            O desafio é promover mais e mais ações que possibilitem às novas gerações rever rumos e dar mais forças nas remadas neste objetivo de salvaguardar a cultura caiçara em todos os aspectos possíveis. E viva todo o pessoal que se envolveu no Encontro de Fandango Caiçara em Ubatuba!

3 comentários:

  1. Muito Bom! Parabens amigos irmãos caiçara.

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  2. Respostas
    1. Isso mesmo José Ronaldo! A medida em que nós nos afastávamos da luz, penetrávamos no universo caiçara. Entrávamos num tempo fora do tempo do relógio, acessávamos um saber ancestral atemporal que é passado pelo Mestre ao Aprendiz através das gerações. E a Canoa como este instrumento de viagem pelo tempo para transmissão da Tradição Caiçara.

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