quinta-feira, 22 de junho de 2017

HOJE É UM TEXTO (II)

Ponto comercial (Arquivo JRS)

               De repente, chegando como onda em cima de onda, lembranças, saudades e palavras viram um texto. Faz-me lembrar daquela claridade de outros tempos que, depois da cantoria dos galos nas madrugadas, ia penetrando pelos vãos do telhado, juntamente com a algazarra dos passarinhos, deixando da noite passada os temores das fantásticas histórias de assombração e dos personagens encantados que nossos pais nos contavam. 
          Nesse ambiente fui alfabetizado. Minha primeira professora brincava com as palavras: “J-A-C-A é jaca. Ponham um acento agudo no derradeiro A que vai virar jacá, que é um cesto que vocês bem conhecem, para cargas. Tão comum é ver os caipiras descendo ou subindo pelos caminhos de Serra Acima com suas pesadas cargas! Agora vamos desenhar oito jacas. Desenharam? A primeira será jaca A, a segunda será jaca B, a terceira será jaca C, a quarta será jaca D, a quinta será jaca E, a sexta será jaca F, a oitava será....” E todos nós gritávamos: “Jaca H, professora!”. E nesse momento ela anunciava o horário do nosso recreio. Era hora de ir até a bica beber água, brincar e fazer nossas necessidades.   Nessa época, quando as cabeçudas (tainhas) chegavam, sempre tinha algum dos alunos trazendo ova seca para a professora. Que presente bem caiçara!!!

               E quando a professora explicou a importância da cedilha, usando a embalagem de açúcar?! Antes dessa lição eu lia acúcar porque não sabia pra que servia aquela “perninha”, aquele “rabinho” debaixo da letra C. E como estranhei aprender o CA - CO – CU a  partir da lição do cachorro! Depois vi que também se aplicava à lata de leite Mococa, que ficava sobre a mesa da tia Carmelina! Bem mais tarde, o Zé da Nhanhã me disse que foi na lição do cachorro que tinha abandonado a escola, depois da bronca da professora. Foi desse jeito: ele foi chamado à lousa para apontar e repetir as sílabas dessa lição. E foi. “Este é o CA, professora. Este é o CO, professora. Este é o CU, professora. É o CU do cachorro!”. Segundo ele, a sala se transformou numa estrondosa risada. "Ninguém parava de rir, Zezinho!". Por isso, morreu analfabeto o nosso querido Zé da Nhanhã. O dó!

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