quinta-feira, 3 de novembro de 2016

O CADERNO DE HAMAKO (III)

       
Olha nós no Recanto Casanossa!(Arquivo JRS)
         Hoje, apesar de todas as facilidades, a maioria dos alunos não valoriza escola, os estudos. Estudar é hábito que se cultiva a partir do primeiro impulso dado pela família e continuado por professores idealistas, daqueles que nos cativam a partir de sinceros acolhimentos, de leituras prazerosas e das descobertas do mundo dos números e das letras. É isso que nos faz andar quilômetros, viajar muito ou até mesmo buscar outras cidades ou países. Só a boa educação pode mudar o mundo para melhor! Por isso é lamentável o descaso dos governantes para com a educação brasileira!

         No CADERNO DE HAMAKO, na parte que eu escolhi para hoje, recordei da minha primeira escola, na casa da Tia Martinha (do Tio Cláudio), no morro da Fortaleza, onde chegávamos com as pernas encharcadas dos serenos nos capins, com um caderno e um lápis protegidos numa sacola plástica, num saco de arroz. Também levávamos nosso peixinho frito, nossa farofa para a hora do recreio. A sede a gente matava numa bica de bambu, da água que vinha da grota ali perto.  Lá estudavam crianças que vinham de longe (Praia Brava, morro do Bonete...), e, numa sala multisseriada, alimentaram seus sonhos, né Cláudio? Né, Clotilde? Né, Cida? Né, Rosângela? Né, Palmira? Né, Ana?

A escola
               A escola era longe, distante 6 quilômetros. A gente ia cedo e voltava à noite. De manhã, das 8 horas até 12 horas, aprendia aula em português. Das 13 horas até 16:30 horas as aulas eram em japonês. A gente levava marmita para comer ao meio dia. Quando acabava as aulas, era hora de fazer a faxina. Depois que tudo estava limpo, a gente ia embora. No inverno, quando chegava na casa, já tinha estrelas.
               Essa escola era uma escola mista: uma classe era dos meninos, outra era das meninas. Nós todos não sabíamos falar a língua portuguesa. Eu até que sabia um pouco porque meu pai tinha uma porção de camaradas para trabalhar na roça. Uma vez por mês eu trabalhava na enxada e na foice para limpar o campo. Tudo era serviço das crianças: os meninos roçavam em volta do campo e as meninas carpiam o mato.
               A escola era num lugar chamado Areado. O cabeçalho assim se escrevia: Escola Mista Rural de Sete Barras. Nela se estudava até o 3º ano. Depois fui para outra escola, um grupo escolar que tinha o 4º ano. Ficava a 6 quilômetros da nossa casa; eu andava 3 quilômetros e corria os outros 3. Nesta outra escola era só brasileiro; ficava na cidade de Sete Barras.

               Eu tinha dois irmãos que andavam 13 quilômetros para estudar. A gente nunca faltava às aulas, nem se atrasava. Crianças que moravam na cidade chegavam sempre atrasadas nas aulas.

3 comentários:

  1. Ótimas lembranças Zé Viajo no tempo e vou para o meu canto na roça em Renopolis, lugarejo nas montanhas. Como a Maman, também estudava pela manhã na escola que tinha somente uma sala com turmas do primeiro ao terceiro ano. Hora mais divertida era comer a marmita no meio do mato e à tarde, aula de japonês, onde papai dava aulas. Educação é fundamental para o desenvolvimento de um povo. Parabéns, gostei muito!

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  2. Muito bom José Ronaldo. Cada um de nós temos as próprias lembranças mas poucos registram em anotações. Assim, tudo se perde com o tempo. Parabéns pela iniciativa. Grande abraço

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  3. Volto no tempo lendo essas lindas recordações. Também estudei na zona rural e a sala de aula era dividida com alunos da primeira a quarta série... O professor fazia malabarismos para ensinar um pouco para cada turminha. E tínhamos muita vontade de aprender,já que era muito comum o professor faltar, pois era longe da cidade, mas os alunos estavam sempre lá, a postos... Obrigada por compartilhar tão belos ensinamentos, Harumi e Zé Ronaldo!

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