sexta-feira, 25 de julho de 2025

FARINHA POUCA...

      

Gatinho da Maria - Arquivo JRS 

  "Pior que a maldade é a estupidez, a ignorância humana", já dizia o velho Arcelino, um cidadão carioca que, na década de 1970, veio tentar a vida em Ubatuba, se tornou morador do Perequê-mirim. Ele se dava muito bem com o meu pai, bebericavam e proseavam juntos sempre que podiam. Meu velho sempre repartia uns peixes com esse amigo porque ele não era da pesca, não foi criado nessa cultura. A profissão dele? Cortava pedras, entendia muito de granito! (Observação: do Estado do Rio de Janeiro vieram muitos trabalhadores para a extração de granito verde de Ubatuba no final da década de 1960 e seguinte).

      Vez ou outra eu me pego pensando, refletindo a partir da frase acima, desse vizinho de outrora que ousava comentar sempre temas em torno da ditadura militar daquele tempo, da minha infância. "Ah, o Celino enxergava tantas coisas além da nossa visão!".  Agora, lendo um livro do Nicolelis e notando os avanços da era digital, posso afirmar que é atualíssimo essa máxima que ouvi há tanto tempo. Não tenho dúvida de que é a estupidez, a ignorância, que alimenta as maldades. Pior: existe um minúsculo grupo de humanos neste planeta que sabe o objetivo, o que está conseguindo com investimentos em programas baseados na tal inteligência artificial. Essa gente, talvez poucas dúzias mundo afora, espera suplantar a capacidade mental dos seres humanos, ter o controle total, traçar o destino da humanidade. Assim se findará a privacidade das pessoas, os sentimentos de solidariedade, de empatia, de justiça. Quer maldade maior? 

      Quando vemos lideranças religiosas e politicas fazendo de tudo para alavancar a ignorância, sobretudo aos mais pobres, podemos crer em uma coisa: essa gente está em conluio para acabar com a capacidade humana de se indignar com tudo aquilo que tira a vida (nossa e do planeta). É a ambição de não repartir, de sonegar impostos, de controlar governos que garantam essas desigualdades sociais e toda sorte de maldades. Era nessa mentalidade exterminadora que se encaixava a citação recorrente do meu finado pai, da minha gente caiçara: "Farinha pouca, meu pirão primeiro!". Eu, criança de tudo naquele tempo, fazia como um gato: só espreitava e escutava as prosas. Ainda bem!       

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