sexta-feira, 1 de novembro de 2024

VONTADE DE CONTAR

 

Rosas no terreiro - Arquivo JRS 


   Lendo uma mensagem do cantor Milton Nascimento, no encarte do disco Anima, me emocionei: “Este disco traz aquilo tudo que acredito. Todas as coisas que gosto. Essa vontade de acreditar, apesar de tudo que acontece no mundo, contrário a essa esperança. A vontade muito grande de cantar, de dizer as coisas para as pessoas, de falar coisas que a gente ouviu, o que a gente aprendeu e que a gente segue vivendo apesar de tudo [...] Anima vem do latim e significa: sopro, aragem, brisa, vento, ar, exalação, cheiro, aroma, dá vida, alento, vida, existência. Significa alma”.

    Por que me emocionei? Porque hoje, agora, enquanto estou escutando a cantoria de passarinhos, alguém está entrando numa sala de aula deste país num desafio: continuar levando a esperança que herdamos de tanta gente que por nossas vidas passaram.

     Qual esperança? Somente a educação pode mudar o mundo para melhor! Que ela seja libertadora!

    O que a gente ouviu e aprendeu nos trouxe até aqui. Eu apenas continuo contando minhas histórias porque creio nas muitas educadoras e educadores que estiveram, estão na pista ou virão por este caminho, nesta mesma esperança. Eu, a cada amanhecer, estou ciente e firmando posição contra os sinais de desesperança tão assustadores. Eu, a cada momento, estou torcendo pelo sucesso da companheirada na empreitada educativa nossa, deste nosso povo, desejando força sempre e se segurando nesta bandeira. É a nossa alma que está em comunhão neste momento, em mais um passo depois de outro, de outro, de outro... almejando a grande utopia que ilumina o horizonte do alvorecer. Vai, filho! Vai, filha! Seguimos juntos, minha Gal! É o amor que nos sustenta! Amanhã será um novo dia juntamente com os sonhos e lutas de ontem e de hoje!

 

Entre as plantações havia água.

Valas, corguinhos...

Reguinhos repletos de vidas:

Garu-garu, camarão, bagre...

Mussum, mãe d’àgua...

Saracura festando o entardecer.

Tudo água limpa, cheia de vidas,

Digna de crença, novidade alguma de quem contou:

“Era só se agachar e se saciar ali mesmo”.

Era assim mesmo!

Sem cercas além dos bastoeiros

(Cheirosos, prediletos de cobras),

Quase sem limites à criançada.

Tudo era espaço de arte,

Lugares de reinações;

Descobrindo mundos

Mesmo no esconde-esconde.

Aonde foi tudo isso? Aonde?

 

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