quarta-feira, 13 de julho de 2022

NOS RINCÕES DE MINAS

 

Rancho caiçara embarreado (Arquivo JRS) 


       Eu terminei de ler um livro de causos e casos escrito por Sérgio Roberto Costa, Doutor em Linguística. Adorei! Pelo visto, ali estava o resultado de uma vivência simples desse professor que passou por todos os níveis acadêmicos, mas manteve sua essência roceira, de lugar pequeno do interior de Minas Gerais. Eu, acolhido em seu recanto de sossego, vislumbrei o homem escutando, contando e vivendo significativos momentos com sua gente inspiradora. Creio que as suas outras obras literárias tragam esse ar da serra, esses sons de aves que chegam dos morros, essas imagens de araucárias que se enfeitam de névoa ao amanhecer em boa parte do ano. Certamente que tudo isso foi se somando à evolução de professor universitário comprometido desde jovem com as questões sociais do nosso Brasil. Só para lembrar: em 1968, o Sérgio estava naquele congresso da UNE (União Nacional dos Estudantes), em Ibiúna (SP), quando o governo militar invadiu o espaço do congresso estudantil e levou toda aquela juventude presa, para ser "devidamente" marcada como subversiva. Agradeço as escolhas da minha querida Gal que resultaram em me encontrar em Marmelópolis e em conhecer a anfitriã, Ana Carolina, filha do referido autor. Coisa boa minha gente!
         Imagina a importância deste perfil (de gostar de prosear, anotar, repassar etc.)?! Neste momento eu me recordo de tantos momentos e de tantas pessoas do meu povo caiçara, sobretudo os parentes proseadores por natureza. Escolhi a imagem acima, do dia em que embarreamos o Rancho Caiçara, no Perequê-açu, para poder dar uma ideia da importância desse ritual e de outras marcas culturais do nosso povo. Sempre foi um ato coletivo a construção de  abrigos caiçaras, de roçados, de pescarias etc. A denominação disso, desse trabalhar juntos, é pitirão (mutirão), que deriva do tupinambá pitirum.. O que não falta durante todo o trabalho nesse traço cultural são as conversas, os causos e as gostosas gargalhadas. Depois de cumprida a tarefa, acontece o momento festivo com alimentação, cantorias e danças. E mais histórias e causos! Eu imagino, me baseando nas coisas contadas por Sérgio Costa, Ariano Suassuna, Rubem Alves, Carolina Maria de Jesus, Conceição Evaristo e tanta gente boa que momentos assim são marcas de quase todos os recantos desse nosso Brasil. Desse modo vamos nos inteirando de tantas coisas que fazem parte da tradição oral desta nossa terra brasileira. Quer coisa melhor que uma boa prosa num lugar muito aprazível?
        Gratidão à Ana Carolina por me apresentar o seu pai. Por intermédio dos causos e casos registrados conheci um pouco do Mestre Sérgio Roberto Costa. Parabéns!

Nenhum comentário:

Postar um comentário