quarta-feira, 11 de novembro de 2015

AINDA HÁ TEMPO!

Tio Dico "consertando" peixe no rio Puruba (Arquivo JRS)
Mussum (Carlos Prudente - Imagem disponível na internet)
Oikos...casa...lar: a quem interessa a ecologia?

            Este planeta é a nossa casa! Esse território com suas características inigualáveis proporcionou o surgimento da cultura caiçara. Ou seja, toda essa soma de artes, de linguagem, de técnicas, de relacionamentos, de conhecimentos e de contribuições à humanidade derivam da relação dos homens com a natureza. Quer tecer um balaio de timbopeva ou de taquara? Vai no mato que tem! Quer comer um jundiá ou um camarão do rio? Vai lá e traz!  Precisa cortar pau de mangue e de barro para poder fazer um pau a pique? É só pegar! Quer saborear pregoava, preguai ou sapinhauá? É só esperar o tempo certo! Ah...era assim! Agora, os espaços foram cobiçados pela especulação imobiliária, os moradores e turistas acham normal poluir os rios e mar etc. Eu sou do tempo em que os rios eram a nossa serventia para muitas coisas. Neles encontrávamos mariscos, lambaris, cágados, lagostas, mussuns, jundiás, mandis etc. Qual cultura vai se estabelecer numa casa detonada? Na verdade, qual cultura não sabe que rio é vida? Ainda há tempo de recuperar muita coisa! O mesmo não posso dizer das espécies que já se foram.
                
         Tenho circulado regularmente pela rodovia entre Caraguá e Ubatuba. Fazendo observações de ataques gritantes à natureza, fico imaginando o que não é perceptível. Trata-se de falta de educação, de desrespeito a um espaço natural que se constituiu em milhões de anos, de crueldade com os outros seres vivos e com os próprios humanos que continuam nascendo. Falo da poluição de nossos córregos e valas, dos pequenos e grandes rios. É notório o tipo de “tratamento” oficial que recebe o esgoto despejado no rio Acaraú. O cheiro e a cor confirmam tal procedimento! Outro ponto cruel é a barra da Praia Dura: tem esgoto in natura saindo por ali. De onde estão vindo as contribuições? Deseja ir sentir o fedor? No entanto, o rio e a praia sempre estão lotados de gente de toda idade. Muitos pescam, caçam siris e se deliciam no espaço que é muito bonito. Depois, na mesma rodovia, passando no canto da Mococa/Cocanha, em outra estação de tratamento de esgoto, novamente o cheiro de algo que é despejado em grande volume no mangue-rio e que vai desaguar nas águas límpidas, defronte ao ilhote onde os mexilhões são cultivados por bravos trabalhadores do mar. Que roteiro turístico exótico!
                Em seu livro Capitão mouro, Georges Bourdoukan, se referindo ao mal-de-bicho, numa cidade importante do litoral nordestino, o personagem constata onde está a origem deste mal. Assim escreve:
                - Fique calmo. O pouco que sei é mais do que eles sabem. Aliás, não é preciso muito para descobrir a razão do mal. Viu como as ruas estão sujas de fezes? Vou recomendar higiene, mais nada. Acredite, a falta de higiene é a principal causadora de doenças.
                Por pouca não foram atingidos por fezes pastosas atiradas de uma janela.
                - Ainda bem que vou embora desta terra – falou o governador.
                - Quando o senhor parte? – perguntou Bem Suleiman.
                - Dentro de quinze dias volto a Portugal. Espero que o meu sucessor tenha mais sorte. Eu só encontrei problemas.
                Saifudin jamais vira tanta sujeira em tão pouco espaço. Era quase impossível andar pelas ruas daquela cidade sem correr o risco de pisar nos dejetos. Fezes humanas e de animais tomavam conta de todo espaço vazio. Era prática comum fazer as necessidades ao redor das casas, atrás dos muros ou sob árvores. As casas não possuíam latrinas. Banheiros, então, nem pensar, já que o banho era raríssimo, mesmo na Europa.
                Quando isso? No século XVII!

               

                

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