domingo, 6 de setembro de 2015

PANAGUAIUZADA

Pescando panaguaiús (Arquivo JRS)
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                Há mais de quatro décadas conheci o Antônio “Panaguaiú”. Eu já era crescidinho, um adolescente curioso. Na verdade, eu conheci o Velho “Panaguaiú”. O nome verdadeiro dele eu nunca soube, assim também como nunca descobri a razão desse apelido. Afinal, eles sempre foram apenas roceiros, nunca tiveram habilidade na pescaria. Essa tradição do nosso lugar em filho herdar apelido do pai é interessante: o Dito “Cutia” tem os seus que trazem o título desse roedor (só não sei se os netos seguem a tradição), a Maria “Rolinha” tem as suas filhas também chamadas nesse nome que inspira mansidão, o Velho Casimiro “Mandioca” tem o seu “Mandioquinha” que se tornou um pilantra etc.
                Panaguaiú é peixe cumprido que está sempre à flor da água, também chamado de peixe-agulha, que se pesca em boia de flecha de capurubu. É assim: você faz uma cruzeta com um palmo em cada ponta, põe um pequeníssimo anzol num curtíssimo pedaço de linha fina em cada braço da cruzeta, capricha na isca  e solta na água sem esquecer de prendê-la a uma linha içante para puxá-la de onde estiver.   Depois... me convida para um café com farinha e peixe frito!
                Então, conforme eu comecei este, o Antônio “Panaguaiú” era roceiro, mas logo arrumou emprego de carteira assinada na prefeitura, na gestão do Basílio Cavalheiro. Deixou o terreiro do pai. Com a sua Anna esperando a primeira criança foi para um desses sertões nosso. Era distante, mas o terreno grande era deles. Tinham horta, criavam galinhas e patos... e crianças! Tiveram sete filhas. As primeiras foram se casando e ficando por ali. Netas e netos foram se somando e diminuindo o espaço. Recentemente o patriarca morreu. Anna agora reina como matriarca.

                Por estes dias, aproveitando o feriado prolongado, fui visitar a minha estimada Anna. Depois de um gostoso abraço, sentamos no portal da cozinha com uma caneca de café e ficamos mais de hora proseando. As crianças se teciam: algumas eu já conhecia, mas muitas eram novas. “Esta é a minha bisneta”. “Aquela dali, brincando com uns tocos de brinquedos também é minha bisneta”. “A outra, a loira, é filha da minha caçula”. “As quatro já enlameadas a esta hora são netas”. “Lá na sala está a minha filha do meio com a sua filhinha de mês”. "É" - digo eu - “você e o ‘Panaguaiú’ se especializaram em mulheres e transmitiram o jeito de fazê-las”. A Anna dá uma gostosa risada. E acrescenta: “ainda bem que foi assim, né? Você imagina a panaguaiuzada que teria em casa se fosse todos homens?”.

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