sábado, 4 de janeiro de 2014

VELHO RITA (III)


Peixe no muro descascado (Arquivo JRS)

Lembrar do Velho Rita é lembrar do contador de causos que foi o seu filho João de Souza. Ontem mesmo, ao ver as conchas de algumas ostras, lembrei-me do caso dos patinhos no Rio Puruba. Conto eu outra ocasião!
Agora, trago outra do tio Filadelfo:

Eu já contei que o Filadelfo, sendo fiel ao seu sobrinho Zizo, morava na capital paulista, mas regularmente visitava os parentes e amigos de Ubatuba, tanto no Itaguá quanto no Acaraú.  Tanta gente boa! 

Sebastião Rita, o Velho Rita, era o contador de causos preferidos desse tio. Assim, nem bem arriava a bagagem de viagem, lá ía ele à casa do amigo caiçara, localizada na margem do Rio Acaraú. Depois se mostrava radiante ao recontar aos parentes os gostosos causos escutados enquanto pescavam nas águas límpidas daquele rio, naquele tempo (até final de década de 1970).
Assim recontou o tio Filadelfo:

“O Sebastião Rita continua do mesmo jeito! Hoje ele me contou de um ‘fato ocorrido há bem pouco tempo’. Tudo começou com uma sororoca colocada na beira do rio, na tábua de consertar peixe. Era ‘uma bitela, presente do Otávio da Conceição, o violeiro e versista da Folia do Divino Espírito Santo’. Enquanto se preparava pegando a faca e a vasilha, o gato do vizinho do outro lado, o Garoçá, ‘trabalhador da empresa do Estado, da SUDELPA’, foi chegando e...vupt! Abocanhou a sororoca. 

“Era um ‘senhor gato amarelo e branco; do mesmo tamanho do peixe!’ Ele catou o peixe do jeito que o bicho é esperto para isso. ‘Deu um salto, caiu numa jangada de pau no meio do rio e já se foi para o outro lado. De lá saiu correndo pelo mato, rompendo treporeva, em direção da casa dele’. Agora é que vem o  espantoso: ‘Eu não pensei duas vezes! De onde estava também me apinchei na jangada e ganhei a margem de lá. Saí desabalado atrás de gato. Mas quá! O bicho desapareceu; eu perdi a sororoca. Maldito gato!

“Isto é que me impressionou mais: ‘Voltando desconsolado para o lado de cá, saltando outra vez pela jangada, foi que reparei bem naquilo boiando na água: era um pernilongo, de um tamanho que eu nunca tinha sonhado. Nunca vi tão grande assim! Você já pensou um pernilongo ser como uma jangada? Matei com uma foiçada pelo meio. Para se ter uma ideia do colosso, de uma junta de perna dele eu fiz uma capa de facão. Agora está emprestado para o Damásio, outro vizinho do lado de lá. Se tivesse em casa, eu mostraria a você para comprovar o tanto que era grande’. Só mesmo o Sebastião para imaginar coisa assim!”

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