Meu ipê florido na calçada - Arquivo JRS |
Agora, postado no terreiro, admirando os ipês
floridos, pensei: “Como passa rápido o tempo! Parece que foi ontem que peguei
aquelas duas pequenas mudas e plantei na calçada, logo ali”. Estão lindos! Pena
que as floradas durem poucos dias.
Certa vez, debaixo de
um ipê assim, cheio de flores amarelas, mas muito maior do que os que agora estou admirando, fiquei escutando umas coisas diferentes,
engraçadas, parecendo até mentira. Mas eram verdades! Quem me garantiu foi Antônio Neves, mestre de
bate-pé em meados do século passado, até quando casou-se com Isabel. Ele contava de
um caiçara antigo de intestino “muito
zangado, que peidava muito”. Já comecei a rir. O tal Maneco Floriano, segundo o Neves, “não era um peidorreiro qualquer, desses que
pretendem aparecer mediante qualquer barulhinho. Maneco era bom mesmo! Tinha
uma habilidade notável nos tais fluídos. Era da prainha do Costa, primo do João
Manoel. Você tinha de ter visto ele se concentrando para imitar um galo
cantando enquanto a gente esperava, no maior silêncio, algum sinal do espia para largar a rede em cardume de peixes. Pensa em
alguém talentoso! E, ainda por cima, fedido demais! Acho que aquele homem tinha
entranhas de urubu”. Achei engraçado, mas não duvidei. Peidão por peidão,
nós tínhamos o tio João Barbudo que chegava bem cedo soltando seus rojões antes
mesmo de nos desejar bom dia ou de abençoar a sobrinhada. Mas ter afinação de
galo cantando era demais!
Os “puns” resultam de
reações químicas resultantes do trabalho das bactérias da flora intestinal. As
características desses gases dependem dos alimentos que consumimos. Os mais
velhos diziam que repolho, frutos do mar e feijão causavam muitas flatulências,
punham para correr todo mundo que estivesse ao redor.
Quando eu quis saber
desse homem, Antônio me respondeu: “Morreu
na época daquela tormenta forte, quando Ismael e outros também morreram no mar durante uma pescaria de sororoca. Quem semeia vento, só pode colher tempestade”. Não pude deixar de rir ainda mais diante do ditado que ele foi buscar para ilustrar
esse tal Maneco e a sua particularidade bem singular. Me desculpe pelo assunto, mas eu não resisti em contar esse detalhe da vida caiçara recordada sob um ipê florido. Imagine afinação de galo cantando naquele lugar onde a costa muda de nome. Essa foi muito boa!
Nenhum comentário:
Postar um comentário