Capela na praia - Arquivo Santiago |
Árvore tombada - Arquivo Santiago |
A velha árvore centenária, em frente à
capela de Nossa Senhora Aparecida, há um tempo tombou pela força da maré que
nunca para de trabalhar. Ali, debaixo daquela sombra serena canoas
descansavam, pescadores proseavam, crianças brincavam em paz com o tempo que
tudo transforma: a criança em adulto, a semente em árvore, a árvore em canoa, a
canoa em história. Ali, debaixo daquela sombra, em frente da capela, muito sonho
e oração embarcou rumo à lembrança do povo. No lugar onde uma antiga fazenda
colonial espoliou a terra dos povos nativos e para onde muita gente foi trazida
sob ferros em tempos cruéis da História do mundo. Ali, onde o mesmo tempo, que é
um rio que nunca para em direção ao mar da eternidade, talhou histórias e
gente que escreveram suas histórias na terra e no mar, com enxadas e canoas,
moldando um mundo e uma cultura secular.
Numa manhã lenta de agosto num vento de
inverno, as velhas águas da memória trazem à tona as imagens da vida de um
povo, suas falas, seus rostos, muitos já distantes e integrados definitivamente
à terra que os gerou, mas ainda presentes nos gestos e pensamentos. Do alto do
morro, na trilha que segue margeando a costa em direção de outras praias do
território, vê-se ao longe um barco navegando devagar na névoa matinal, redes
postas, trabalho antigo, herdado de gerações. Um singelo barco, pequena casca
de madeira solta na amplidão das águas, mas que contém um mundo em seu
interior. Do alto da trilha uma criança, filha da terra, olha o pequeno barco,
arrastando suas redes na manhã vagarosa, entre ela e o velho barco uma tênue
linha invisível do tempo a guiar os rumos da vida de um povo e a sua memória.
Ali, um lugar sagrado de um povo, inspiração pra seguir na luta. Obrigado e parabéns pelo blog e por manter viva a memória cultural de nossa cidade.
ResponderExcluirValeu por você se engajar na causa do território e do povo caiçara!
ResponderExcluirPara essa leitura magnífica uma reflexão profunda... Aqui diante do meu olhar pedagógico e amoroso estão os frutos desse lugar histórico , paradisíaco e acima de tudo resistente. Gratidão 🙏
ResponderExcluirQue maravilha! Gratidão, amiga. Que o seu esforço seja a sua vitalidade.
ExcluirProsa poética muito bonita! Parabéns, Zé!
ResponderExcluirValeu, Jorge! Gratidão. Talento do Santiago.
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