Arte no muro - Arquivo JRS |
Vovó Eugênia,
quando notava na época do plantio de alface passarinhos se refestelando entre os canteiros da horta, logo
tratava de ressuscitar um desengonçado espantalho encostado em um canto. Eu, criança de tudo, intrometido, curioso e querendo ajudar, me prontificava a ajuntar
uns adereços para deixar o recurso da vovó – o espantalho – mais bonito:
escolhia um chapéu já se arruinando, punha umas fitas coloridas e acrescentava
outros penduricalhos para reagirem ao vento, produzirem barulho. Eu e ela
deixávamos o espantalho no “ponto” . Entre as verduras ele se postava com uma
missão: apavorar os passarinhos.
Nosso espantalho
tinha até identidade. Mané Aguado era o nome dele. No tempo, sob sol, chuva, vento, sereno, frio e calor, ele ficava até quando a vovó se convencia que não era mais
necessário, quando não precisava mais. Então, ela pedia para alguém recolher e tornava a guardá-lo num canto, na casa de farinha, esperando a próxima ocasião de
uso.
Eu me lembro de um
comentário do tio João: “Parece que o Mané Aguado continua dando conta do
recado, né? Se não fosse ele, nenhuma alface a gente comeria. Quando ele estava de plantão, quase nem se escutava piado do lado da horta”. Vovô Armiro, que pela janela admirava a paisagem, deu uma resposta em forma de quadrinha: “Mané Aguado tá gasto, mas na horta da Eugênia, não deixa passarinho no chão. Seguindo nesse rumo do Brasil, um dia ele pode ser o espantalho de plantão”.
Será que o saudoso avô previa um espantalho para apavorar a gente, o povo brasileiro?
Pois é. Esse espantalho deve ir para o manicômio! E nunca mais sair de lá.
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