segunda-feira, 16 de agosto de 2021

O CONHECIMENTO DAS ERVAS SALVAVA

O chafariz de Ubatuba (Arquivo Ubatuba Antiga)

         Na última década do século XIX, quando o município de Ubatuba contava com oito mil habitantes, muito longe de haver água encanada nas casas e eletricidade, o médico Esteves da Silva descreveu as condições de vida da população caiçara, fez um estudo que muito contribuiu para a evolução científica brasileira. Hoje, apenas uma parte  para que tenhamos noção de seus estudos.


Pathologia local

   Há no estudo da pathologia da localidade três elementos, dignos de attenção, que revelam a causa das modificações de verdadeiro carácter mórbido local, carácter que, em geral, é o da maior benignidade e o mais vulgar nosologia dos climas quentes. 

   Esses elementos são os seguintes:

   1º - Simplicidade dos costumes, ignorância e extrema indifferença aos commodos da vida da maioria dos habitantes do município, exceptuando os da cidade.

   2º - A decadência da localidade (após vida activa e de grande movimento agrícola, substituída por commércio marítimo bastante desenvolvido mais tarde), acarretou o pauperismo, o desânimo da população do campo e fez salientar a ingenuidade do camponêz, a indolência e a indifferença a tudo que não fôr um interesse de presente.

   3º - Alimentação fácil e barata no mar, nas musáceas e no Manihot utilissima encontrado os succedâneos, quando não lhe seja possível obter do oceano o seu principal e mais appetecido nutrimento, isto com os ribeirinhos da costa, e quanto aos do interior tendo na caça abundante, quer em aves, quer em quadrúpedes, os meios de se nutrirem, são condições de fácil explicação para alguma indolência e para esse desprendimento dos bens materiaes, que trazem a ambição das commodidades hoje e o amanhã da independência social.

  D'aqui decorre que tendo quasi ao alcance da mão o mais importante, o alimento, entendem que egualmente lhes é fácil encontrar o remédio prompto para todas as moléstias, já nas plantas do quintal ou do matto, já nas combinações extravagantes de diversas drogas, combinações filhas de cérebros originalíssimos de alguns curandeiros e de outras tantas comadres, conhecidas com o pomposo nome de práticas.


    Ressalta o autor do estudo: 

  "Não há nas nossas expressões nem ridículo, nem desprezo por taes erros e tal estado de cousas, que temos combatido com palavras, aconselhando e offerecendo nossos serviços com o maior desinteresse, natural da profissão médica, geralmente, e que é um dever santo e universal". 

  Nota-se que parece não lhe agradar muito o saber popular, aquilo que salvava o homem caiçara. Nem a simplicidade, a falta de cobiça, de aspirações ao progresso e aos bens materiais se mostraram como passíveis de elogio, de reconhecimento como coisa boa pelo doutor Esteves. 

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