Gente no jundu (Arquivo Olympio) |
Ubatumirim. Dia de sol indo e vindo no inverno. Passei na casa da Dona Benedita, proseei um pouco, tomei café com mandioca cozida e me fui. Umas crianças brincavam por ali, estavam de corrimaça na praia. Uma bola fazia a alegria deles. Mais adiante um pai e sua criança sentavam em um banquinho. Pedi licença para fotografá-los. Logo segui em frente, pois no canto da praia estava acontecendo puxada de rede. Registrei tudo. Coisa bonita. Só quem viu sabe o que é ver os homens, passo a passo, a seguir de costas dividindo o peso da enorme rede que foi lançada bem depois da arrebentação das ondas. Sempre está pesada, seja com peixes ou com cisco que circula com as correntes. Na chegada, parte de um cardume de arraias explicava o peso em demasia. Mas outros peixes (baiacus, pescadas, cação viola, bicuda...) fizeram os olhos brilharem, pois têm sabores distintos e são bem apreciados pelos caiçaras. Deixo o grupo depois de outros registros; sigo em frente porque o Bidico, no Canto da Paciência, está trabalhando madeira. Ele faz lindas gamelas, remos e simples esculturas. O rapaz é talentoso.
Bidico está só. Na mão um alegre bem afiado sobe e desce na maior atenção. Comento esta qualidade (bem afiado). "Que nada, Seo Olympio! Esta madeira é macia. Nós chamamos de goerana. A gente nem sente que está lavrando. Agora é verdade: as minhas ferramentas estão sempre tinindo; eu amolo sempre a cada serviço". Quis saber se ele vendia os seus trabalhos. "Quase tudo aqui é para nós mesmos, a gente usa em casa. De vez em quando eu troco por alguma coisa com alguém, mas dificilmente vendo. É que o dinheiro é pouco por aqui. Agora, na semana passada, o Sarvadô e o Nerso, que trabalham no barco do padre, me disseram que uma loja de artesanato na cidade compra para revender a essa gente de fora. Eles falaram com o dono, fizeram propaganda dos meus trabalhos. Até me trouxeram uma quantidade de extrato de nogueira para escurecer algumas peças. Eu me comprometi a produzir uma quantidade de coisas para serem levadas no próximo mês".
Fiz uma última imagem. Me despedi feliz com a conversa. Logo, assim que estrada que vai até Paraty for concluída, vocês verão o que é ter turistas! Como diz o pessoal daqui: "Vai ser uma alaúza medonha, de gentalhada e carralhada se tecendo pela praia. Até os peixes vão se mandar da beirada do mar. Este sossego vai se acabar, Seo Olympio".
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