segunda-feira, 2 de agosto de 2021

VALENTE, MEU BARCO

 

Vovô José Armiro (Arquivo JRS)

Vovô na bicicleta (Arquivo JRS)

   Vovô Armiro, chamado de Zé Grande pela vovó Eugênia (para diferenciar do neto Zezinho que vivia se tecendo em volta deles ou estava sempre por perto), gostava de provocá-la em versos. Eis um deles, da minha lembrança: "José Armiro Alves de Lima/ Flor das moças, alecrim das meninas". Outro? Tá bom... "Meu pé de manjericão, minha flor de açucena/ Quer competir com você a vossa prima Filomena". Hoje, no poema do mano Mingo, ele nos alerta contra os tubarões de terra, os que foram chegando e abocanhando as posses caiçaras, sobretudo recorrendo à elaboração de ilusões para ludibriar os peixes miúdos.



Quando crescer eu vou comprar um barco à vela

para me levar aonde o vento sopra,

vou pintá-lo de nuvens e ondas

e chamá-lo de valente.

Vou deixar de bobagem,

navegar só de cabotagem,

ter amigos em cada porto,

pescar o peixe grande e soltar o filhote,

assistir o espetáculo dos golfinhos,

respeitar os sinais dos tempos,

fugir das tempestades,

e ter tenência das coisas,

pois, como disse vovô José:

"escute e veja se não erra,

o pior dos tubarões

muitas vezes está em terra".

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