Pescaria na praia - Arquivo JRS |
A realidade, o cotidiano está aí, se mostrando às contemplações, interpretações, interações e intervenções. Basta dar uma voltinha, se deter e prestar atenção. Um exemplo: me postei no jundu para ver um grupo de pescaria composto quase totalmente por japoneses, desde jovens até o patriarca, bem idoso. Me recordei que, desde pequeno, eu sei que os japoneses gostam de pescar, adoram peixes e outros frutos do mar. Grandes grupos chegavam na praia onde cresci e se espalhavam pela costeira. Caixas de isopor, varas, barracas e tantos apetrechos que tanto nos impressionavam só tinham uma intenção: proporcionar uma boa pescaria.
O grupo a que estou me referindo, pelo jeito, chegou cedo. Logo deduzi, pelo que vi: estava ali para passar o dia. Todos eles se acomodando em cadeiras depois de arremessar suas linhadas, prestando atenção nas vibrações das varas. De vez em quando alguém do grupo passava com uma bandeja, servindo algo para o estômago. Eu também comecei a prestar atenção nos diálogos. "Outra vez, Lúcia? Perdeu outro anzol? Só pode ser baiacu!". "Ei tio, traz outro anzol para mim". De repente, um puxão na linha mais próxima do patriarca. Eu, caso estivesse no grupo, logo pegaria a vara e começaria a trazer o peixe. Mas não foi o que aconteceu. O pescador mais próximo se levantou de sua cadeira, foi até o patriarca, ajudou-o a se levantar, conduziu-o até onde estava fincado o suporte e colocou a vara em sua mão. Depois de se certificar que o idoso estava firme, o largou. Daí em diante, o trabalho foi do pescador mais experiente deles, na carretilha, no molinete. O peixe veio vindo, veio vindo, veio vindo...conforme a força do homem e o seu talento. Era um bagre. Eu, ali perto, vibrei pelo feito - e pelo peixe! Nisso, uma das mulheres segurou o bagre, levou até o patriarca para que ele visse bem de perto e recebeu a confirmação para guardá-lo numa caixa que estava logo ali, junto à cadeira de rodas do idoso. Que bonito!
O que você observou é uma autêntica demonstração de respeito ao idoso. Algo que nossa cultura ainda não incorporou.
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