Brasão de Ubatuba - Arquivo Ubatuba Antiga |
Pedrinho, agora Pedrão, neto do Velho Pedro Cabral, há mais de década vive na Austrália, longe de seu chão caiçara. Foi para trabalhar, casou-se lá. Creio que por lá, junto a outro mar, com outro povo de pescadores, fará o seu repouso final. Sei de poucos, de gerações mais novas, que fizeram igual: Tayná está na Finlândia, Liliane vive na Espanha, Nilson Nascimento se acomodou em Portugal, a filha da Olga é quase avó na Suíça, Sara está adaptada, vive bem na Escócia, Catarina está na Bélgica, o neto do Dito da Matta se encontra na Alemanha etc. Toda essa gente mais nova buscou outros caminhos, outras terras a fim de ter outros futuros. De vez em quando recebo notícias deles e delas por vias indiretas.
Há pouco tempo, da Austrália, por intermédio da prima do Pedro, fiquei sabendo que há um ritual, na região onde ele mora, bastante interessante. Escutei com interesse, deduzindo que o espírito caiçara do rapaz permanece, mesmo em terra tão distante. Penso que é por ser na beira do mar a cidade onde ele se estabeleceu. Quem sabe não é a energia do mar que o faz recordar das suas raízes, de viver e recontar as novidades de lá!? Afinal, o seu avô era um dos maiores pescadores de seu tempo, tinha canoas e enormes redes para a pesca dos cardumes que abundavam neste litoral, nesta Ubatuba. Mas o que ele enviou de novidade?
Naquela região, na cidade onde o Pedro está, bem longe daqui, também a pesca é uma atividade econômica forte. Portanto, o lugar onde vive o nosso citado caiçara, tem muitos "caiçaras" australianos, descendentes dos povos primitivos que lá habitavam antes dos europeus invadirem para a exploração. Na cidade há um ritual anual, por ocasião da época da chegada de grandes cardumes. A intenção é afugentar os maus espíritos das águas do mar a fim de não atrapalharem as atividades pesqueiras. Bem na orla da praia uma rua se torna a Rua das Caretas. São esculturas de variados tamanhos, todas postadas de frente para o grande mar. Dentre elas têm algumas centenárias, provindas de tempo pré-colonial; outras vão sendo esculpidas a cada ano, dentro da cultura dos pescadores locais. São três dias e três noites de muita sonoridade, pedidos, danças, comidas e bebidas na Rua das Caretas, na festa do Roh yang baik. No quarto dia todos descansam. Apenas no quinto dia, depois de terem seus nomes repintados, as embarcações partem no enfrentamento do mar, tal como os nossos ancestrais tupinambás, os nossos antigos e os novos trabalhadores do mar de Ubatuba. Na cidade, pelos lugarejos, ficam apenas os familiares rezando por aqueles que agora pescam. Assim, o caiçara Pedro vai se adaptando aos "caiçaras" da Austrália. Que a gente continue recebendo mais coisas, alegres notícias dos bons espíritos de lá! Abraços e felicidades ao nosso pessoal que partiu ao encontro de novas raízes!
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