segunda-feira, 1 de março de 2021

POSIÇÃO DAS INJUSTIÇAS

 

Arte no muro (Arquivo JRS)

     Nicolau Montanaro, cuja saudação era "ou mais, viva!", tinha uns momentos estranhos, de falas enigmáticas. Seo Argemiro, cunhado do Antônio Julião, de vez em quando me parava para uns comentários depois de prosear com o Velho Nicolau. Era a década de 1970, tempo dos governos de generais militares.

   - Vós sabeis que eu desconfio que o "O mais" se esconde de alguma coisa? Nesse tempo em que o governo fiscaliza tudo, desde música até notícias de jornais, pode ser que ele tenha escapado de sua cidade, do seu lugar, para não sofrer punição por alguma coisa. A propósito, Zezinho, você sabe de onde ele veio?"

      Respondi que não sabia. Ninguém sabia porque ele não dizia; respondia enviesado quando inquirido a respeito. Mas por repetir sempre que era tio do jogador de vôlei, do famoso Montanaro, sempre desconfiei que ele fosse da capital paulista ou dali de perto. Seo Argemiro continuou:

  - Agorinha mesmo ele defendia a justiça contra essa gente que acumula posses e deixa tantas outras sofrendo, no aperreio da vida. Quase gritou assim: "O relógio está parado nessa posição de injustiça. É preciso acertá-lo, Argemiro!".

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