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Olhando - Arquivo JRS |
Sentei-me logo depois do rio, no barranco. O mar batia com toda vontade nas pedras, coisa comum no mês de agosto. Logo que me acomodo, avisto o tio Durval e o tio Dico se encaminhando em direção ao Canto Bravo. "Eles estão indo pescar garoupa". Como sei? Todos dizem que o tio Durval tem, desde novo, esse costume; é dele: só se atreve ir atrás de garoupa quando é tempo de mar revoltado, desses que lambem até as touceiras de caraguatás em cima das pedras, quase no morro. Logo passam por mim; balançam a cabeça em cumprimento. Sei que levam, no balaio, bonito passado para isca. "Que cheiro ruim, credo! Que fedor!". Mas é a melhor isca para a pesca de garoupa. Cada um deles leva duas varas de bambu, linha forte e anzóis encastoados. Fico admirado pela disposição desses caiçaras de outras gerações. Nem chegaram à primeira pedra, mas já estão encharcados pelos borrifos das ondas batendo. Imaginei que, dentro de pouco tempo, o tio Durval não poderá mais fazer isso devido ao problema na visão. "Coitado do titio".
Dez anos depois, de fato, o velho caiçara, morador do Puruba, nem podia se arriscar em ir sozinho até a beira do rio. Ficava por ali mesmo, sentado no terreiro, como se quisesse ser visto e cumprimentado pelos passantes, quase todos pedindo sua benção. "Bença, tio Durval". Ele, levantando o boné de corintiano, repetia muitas vezes: "Deus te abençoe, filho". De vez em quando, olhando pela janela, a tia Belinha verificava se estava tudo bem nos arredores.
Quantas vezes eu parei para uma prosa e um café com os dois, naquela paz do jundu do Puruba!? Foi na casa deles que eu provei, caprichado pela tia Belinha, um escaldado de ostra. Não tem como descrever a delícia desse prato! Nem tem mais ostras como antigamente naquelas águas do encontro dos rios Quiririm e Puruba com o mar. "Quem não comeu não comeu. Quem comeu se regalou".
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