sábado, 6 de março de 2021

10 ANOS DE VIDA - FAROL CAIÇARA

  


O nosso estimado Jorge



         Hoje é aniversário do coisasdecaicara, deste blog. Parece que foi ontem que acatei a sugestão da minha querida Gal. Dez anos, pessoal. São 10 anos!

        No mês passado, que se findou há poucos dias, um recorde: 23.128 acessos. Nesses 10 anos, foram 416.668 acessos; 1.544 publicações deram satisfação aos leitores, sobretudo aos 188 seguidores que se manifestaram em 488 comentários. Nesta semana, desde hoje, feliz por todo mundo que lê as nossas coisas, fiz questão de convidar algumas pessoas muito especiais a escreverem como parte de nossa comemoração. A  primeira acolhida cabe ao texto do nosso estimado e talentoso Jorge Ivam. Gratidão, irmão!


     FAROL CAIÇARA

       
      Há exatos dez anos, nascia este blog, cujo nome – Coisas de Caiçara - alude a uma expressão que tem um viés preconceituoso e depreciativo na boca de forasteiros metidos a besta, que veem com desprezo os nativos de nosso litoral e, vez por outra, proferem-na com desdém, insatisfeitos diante de uma ação praticada por algum caiçara (ou não). Engana-se, porém, quem acha que o objetivo precípuo deste espaço é combater esse preconceito. Não é que ele não deva ser combatido, mas preconceito é uma forma de tolice, e contra tolice toda batalha é vã. Igualmente se equivoca quem julga que o blog professa bairrismo, pois nele não se encontra laivo algum de exaltação idealizadora que possa fazer crer que o povo caiçara seja superior a outros. 

       O responsável por este blog, Zé Ronaldo, é um homem com vasta formação humanista, que conhece parte dos estados brasileiros e um pouco dos países latino-americanos com todas as suas peculiaridades, passou um tempo na Europa e, com essa vivência, aprendeu que não há superioridade de um povo sobre outros ou mesmo de uma comunidade sobre outras. Há diferenças de hábitos, costumes, crenças, visões de mundo, mas não superioridade. Uma pessoa assim não cai, pois, em tais armadilhas. Seu blog quer, sobretudo, mostrar a cultura caiçara, resgatar seus saberes e valores, que estão se perdendo devido ao pseudoprogresso, que procura pasteurizar e englobar tudo numa cultura massificadora, que apaga as marcas locais, nativas, tornando-as um produto de consumo também. 

         Para alimentar este blog, Zé Ronaldo vale-se de muitos dos seus talentos. Um deles é ser bom de prosa e saber ouvir com atenção os mais velhos, coisa rara nesses tempos, em que pessoas idosas e de pouca escolaridade são tratadas como tolas ou desprovidas de conhecimento. Nosso amigo, isento dessa arrogância hodierna, sabe que esses senhores e essas senhoras possuem muita sabedoria, adquirida por experiência ou recebida de seus antepassados. Por isso e por seu enorme senso de camaradagem e de respeito, Zé senta-se ao lado deles, puxa conversa e se maravilha com o que escuta. Com sua alegria, com seu riso solto, contagia o interlocutor, e este, sentindo-se estimulado, desenrola o novelo da memória e daí surgem relatos engraçados ou testemunhais, que depois vêm parar neste blog, não por parecerem pitorescos, mas porque são exemplares, didáticos, isto é, podem nos ensinar muito sobre e para nossas vidas.

       O Blog, no entanto, não se ocupa só do passado, não. O presente figura nele em vários gêneros ou formas de arte. Aqui se podem encontrar entrevistas, relatos, memórias, crônicas, ensaios, causos, anedotas, fotografias e até desenhos feitos por Zé Ronaldo mesmo ou por seus filhos para ilustrar certos textos. De vez em quando, podem ser lidas aqui também críticas ácidas, destinadas aos mandatários do país, a autoridades estaduais e municipais ou a algum vizinho “sem noção” como Zé gosta de denominar indivíduos alienados, desprovido de ética e senso de coletividade. Também se podem encontrar poemas de autoria do próprio Zé ou do seu querido irmão Domingos Fábio dos Santos, o Mingo, e de outros poetas.

    Aos olhos de Zé Ronaldo nada escapa: filhotes num ninho, uma flor que teima em nascer em um lugar inusitado, um minúsculo sapo entre pedras à beira de um regato, fatos para os quais ele tem palavras cheias de lirismo, ou, ao contrário, uma praia infestada de lixo, cena que lhe causa uma enorme indignação. Além disso, Com uma percepção aguçada, própria de grandes artistas, Zé tem o dom de enxergar belezas, que passam despercebidas da maioria dos mortais. Sempre que possível registra-as com sua câmera ou na sua prodigiosa memória para depois transformar as imagens gravadas ali em belas obras de artes, já que são únicas, originais, mas que, por humildade, ele as chama de artesanato. Muitas fotografias dessas obras também são postadas aqui neste blog.

    Em suma, o papel desse canal de comunicação virtual é chamar atenção para a importância da cultura caiçara, estimular o conhecimento sobre ela, a qual vem se perdendo devido a muitos fatores, mas os principais são estes: a especulação imobiliária, trazida pela abertura da BR 101, o turismo, a presença ostensiva das igrejas evangélicas e a penetração dos meios de comunicação de massa, sobretudo da televisão, que acaba padronizando os gostos de norte a sul do país. Contra isso, este blog pode ser um farol para orientar aqueles que acham que podemos construir um mundo diferente deste, que é guiado pelo consumismo. Por isso eu sigo-o, recomendo-o e desejo-lhe vida longa.


Jorge Ivam Ferreira,

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