terça-feira, 30 de março de 2021

A ESCOLA DO TIÉ

 

Escola do Tié, no Sertão do Ubatumirim

     Agora abro uma lacuna no relato da Dona Virgínia para destacar a vivência de um homem que fez parte do projeto dessa mulher em Ubatuba.

    Acompanhando uma prosa entre o primo Ostinho e o Tié (Armindo Barbosa), logo agucei a atenção. Era um desdobramento das publicações feitas em torno do referido relatório.

 

Tié  (Arquivo Roberto)

    Bom dia, Ostinho. Bom dia, todos do grupo [de fandango]. Falando da Dona Virgínia, ali do Itaguá, o primeiro ano que eu entrei na escola, lá no Sertão do Ubatumirim, na escolinha coberta de sapê, ela foi a primeira pessoa que doou para nós os uniformes. Foi lá que eu vim conhecer o que era um short azul e uma camisa branca: uniforme da escola. Ela foi uma pessoa muito maravilhosa, demais para nós da época. E quem se evoluiu bem na leitura, ela teve o prazer de levar para São Paulo, para estudar lá, que nem o filho do..., irmão dessa turminha que mora aqui no sertão: do Mané Gusto, do Saturnino... Entende? Ela fez isso, essa doação pra nós. Afinal de contas: caderno, uniforme... era ela que presenteava pra nós. Era uma pessoa muito maravilhosa.

 

     No fim fiquei pensando nas pessoas que, assim como o Tié, continuam entre nós, foram alfabetizadas graças ao trabalho da Virgínia Lefèvre, da Dona Virgínia, há mais ou menos setenta anos. Essa gente precisa dar seu testemunho. É muito importante para a nossa história e à memória caiçara.

     E o caiçara, do Sertão do Ubatumirim, que foi levado para continuar os estudos em São Paulo: quem poderá dar notícias dele? Quem estiver mais próximo do Tié (e desse pessoal que teve a chance de frequentar uma escola graças ao trabalho dessa mulher valente), deve registrar tudo. Alguém já disse que “quando morre uma pessoa idosa, é como se tivesse queimado uma biblioteca”.

   É isto: vamos resgatar a memória oral dessa caiçarada, desse nosso povo que tem tanto conhecimento, tanta vivência a ser registrada! A nossa biblioteca precisa se avolumar mais em vez de ser queimada!

   E viva o Tié!

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