Escola do Tié, no Sertão do Ubatumirim |
Agora abro uma lacuna no relato da Dona Virgínia para destacar a vivência de um homem que fez parte do projeto dessa mulher em Ubatuba.
Acompanhando uma prosa entre
o primo Ostinho e o Tié (Armindo Barbosa), logo agucei a atenção. Era um
desdobramento das publicações feitas em torno do referido relatório.
Tié (Arquivo Roberto) |
Bom dia, Ostinho. Bom dia, todos do grupo
[de fandango]. Falando da Dona Virgínia, ali do Itaguá, o primeiro ano que eu
entrei na escola, lá no Sertão do Ubatumirim, na escolinha coberta de sapê, ela
foi a primeira pessoa que doou para nós os uniformes. Foi lá que eu vim conhecer
o que era um short azul e uma camisa branca: uniforme da escola. Ela foi uma
pessoa muito maravilhosa, demais para nós da época. E quem se evoluiu bem na
leitura, ela teve o prazer de levar para São Paulo, para estudar lá, que nem o
filho do..., irmão dessa turminha que mora aqui no sertão: do Mané Gusto, do
Saturnino... Entende? Ela fez isso, essa doação pra nós. Afinal de contas:
caderno, uniforme... era ela que presenteava pra nós. Era uma pessoa muito
maravilhosa.
No fim fiquei pensando nas
pessoas que, assim como o Tié, continuam entre nós, foram alfabetizadas graças
ao trabalho da Virgínia Lefèvre, da Dona Virgínia, há mais ou menos setenta
anos. Essa gente precisa dar seu testemunho. É muito importante para a nossa
história e à memória caiçara.
E o caiçara, do Sertão do
Ubatumirim, que foi levado para continuar os estudos em São Paulo: quem poderá
dar notícias dele? Quem estiver mais próximo do Tié (e desse pessoal que teve a
chance de frequentar uma escola graças ao trabalho dessa mulher valente), deve
registrar tudo. Alguém já disse que “quando morre uma pessoa idosa, é como se
tivesse queimado uma biblioteca”.
É isto: vamos resgatar a
memória oral dessa caiçarada, desse nosso povo que tem tanto conhecimento,
tanta vivência a ser registrada! A nossa biblioteca precisa se avolumar mais em
vez de ser queimada!
E viva o Tié!
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