Mano Mingo - (Arquivo JRS) |
Hoje é dia do mano deixar a sua mensagem pelo décimo ano do coisasdecaicara.blogspot.com - Gratidão, Mingo!
Este blog, composto de crônicas que tratam de histórias, acontecimentos que estavam no esquecimento, pitadas de filosofia, curiosidades do tempo e espaço caiçaras, entre outros assuntos, pertence ao José Ronaldo, caiçara dos quatro costados, professor de filosofia. O bom de ler suas crônicas é rever aspectos de como era Ubatuba antigamente e comparar as mudanças que aconteceram no espaço e na sociedade praiana, com graves prejuízos para os caiçaras.
As mudanças foram tamanhas que, poucas décadas depois, restaram poucos ranchos
de canoas nas praias, a maioria das famílias perdeu as residências e os espaços
na orla marítima, muitos abandonaram a pesca, a roça de subsistência e tiveram
que arranjar outro espaço de moradia na periferia da cidade ou nos sertões de
Ubatuba. Muitos tiveram que trabalhar assalariados, quase sempre sem registro
dos direitos trabalhistas.
Por experiência própria, pode-se dizer que no novo espaço e no novo trabalho já
não há mais vida plena, porque os caiçaras deixaram de ser senhores do mar e,
também, deixaram de ser senhores do próprio tempo. Agora a realidade é mais
dura, vivem em terrenos 10 x 30 em horizontes 10 x 30.
Com todas essas mudanças a cultura caiçara vai se extinguindo, na medida em que
a cultura está estreitamente vinculada aos modos e meios de produção
econômica. Isto é, muitos já perderam a identidade de caiçara, pois, tem
muitos netos e até filhos de caiçaras que não sabem mais remar uma canoa, nem imaginam o que seja costurar uma rede, desconhecem as técnicas de pesca, os nomes dos peixes,
remédios de ervas da mata atlântica, técnicas de plantio da mandioca e de como
fazer a farinha da terra, etc.
Na verdade perdeu-se até a forma de se relacionar com a divindade, pois, já
quase acabaram-se as festas de padroeiros, as novenas, as procissões da
bandeira do Divino, etc. Quase ninguém conversa mais com Santo Antônio ou
Nossa Senhora no oratório caseiro. Nem tem sabem da valença disso nos tormentos de outrora.
Contudo, ao ler as crônicas do Zé, pode-se apreender um pouco das
paisagens e das histórias do antigo mundo caiçara. E quem começar a
leitura de qualquer uma de suas crônicas logo vai sentir o gostinho de quero
mais. Eu quis.
Viva o Dia Internacional da Mulher!
Domingos Fábio dos Santos, geógrafo e irmão do Zé.
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