domingo, 28 de março de 2021

DONA VIRGÍNIA - PARTE II

 

Puxada de rede na praia

      Dona Virgínia, chegando em Ubatuba em 1946, se sensibiliza pelos moradores deste chão e procura entender como as coisas desembocaram em tais condições impostas aos caiçaras. É muito importante saber a História para estabelecer razões a uma resistência!

Em 1788 o governador da Capitania Geral ordenou que todos os barcos de cabotagem fizessem escala obrigatória em Santos, que sofria por falta de gêneros, vendendo o que pudessem antes de seguir para diante. Ora, a tributação ali era alta e os compradores não pagavam tanto quanto os do Rio de Janeiro e outros portos. Protestaram os ubatubenses em veementes abaixo-assinados, mas em vão. Desanimados, muitos dos agricultores abandonavam suas culturas, outros deitavam fogo aos canaviais e mudavam-se. Enquanto isso, a vila de Santos prosperava e a abertura de caminhos por terra ligando a Capital a outras cidades de planalto foi desviando mais ainda o pouco de comércio que ainda sobrava a Ubatuba. Os habitantes levaram anos protestando, mas a situação não mudou e a decadência continuou até a chegada da Família Imperial, em 1808, com a consequente liberação do comércio. No século XIX, com a introdução do café no Vale do Paraíba, Ubatuba tornou a prosperar e, por volta de 1865, escoava-se por ali cerca de metade do café exportado pela província. Lá para fins do século, alguns dos cafeicultores se juntaram a potentados ubatubenses para construir uma estrada de ferro ligando o vale ao porto. Mas o café já passara do auge, e a empresa faliu. Encontra-se ainda hoje os vestígios da obra de terraplanagem e até o edifício da estação. 


Praticamente sem comunicação com o interior, Ubatuba entrou de novo em declínio. Dessa vez o povo aceitou a sorte com mórbida resignação. O clima era bom e o alimento farto, no mar e no mato. Os mais enérgicos plantavam mandioca, cana de açúcar e café. Faziam farinha de mandioca pelo mesmo método primitivo dos índios; da cana extraiam garapa para fazer o café; e do mar tiravam o peixe.


Mas veio a saúva e alastrou-se de tal maneira que já não era mais fácil conseguir alimento da terra. E vieram as traineiras “cercar” o peixe dentro das enseadas, deixando o caiçara sem ter o que pescar. Procedimento ilegal é claro, mas os donos sem escrúpulos, comodamente instalados nas cidades limitavam-se a pagar as multas quando apanhados em flagrante. 


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