Puxada de rede na praia |
Em 1788 o governador da Capitania Geral
ordenou que todos os barcos de cabotagem fizessem escala obrigatória em Santos,
que sofria por falta de gêneros, vendendo o que pudessem antes de seguir para
diante. Ora, a tributação ali era alta e os compradores não pagavam tanto
quanto os do Rio de Janeiro e outros portos. Protestaram os ubatubenses em
veementes abaixo-assinados, mas em vão. Desanimados, muitos dos agricultores
abandonavam suas culturas, outros deitavam fogo aos canaviais e mudavam-se.
Enquanto isso, a vila de Santos prosperava e a abertura de caminhos por terra
ligando a Capital a outras cidades de planalto foi desviando mais ainda o pouco
de comércio que ainda sobrava a Ubatuba. Os habitantes levaram anos
protestando, mas a situação não mudou e a decadência continuou até a chegada da
Família Imperial, em 1808, com a consequente liberação do comércio. No século
XIX, com a introdução do café no Vale do Paraíba, Ubatuba tornou a prosperar e,
por volta de 1865, escoava-se por ali cerca de metade do café exportado pela
província. Lá para fins do século, alguns dos cafeicultores se juntaram a
potentados ubatubenses para construir uma estrada de ferro ligando o vale ao
porto. Mas o café já passara do auge, e a empresa faliu. Encontra-se ainda hoje
os vestígios da obra de terraplanagem e até o edifício da estação.
Praticamente sem comunicação com o
interior, Ubatuba entrou de novo em declínio. Dessa vez o povo aceitou a sorte
com mórbida resignação. O clima era bom e o alimento farto, no mar e no mato.
Os mais enérgicos plantavam mandioca, cana de açúcar e café. Faziam farinha de
mandioca pelo mesmo método primitivo dos índios; da cana extraiam garapa para
fazer o café; e do mar tiravam o peixe.
Mas veio a saúva e alastrou-se de tal maneira que já não era mais fácil conseguir alimento da terra. E vieram as traineiras “cercar” o peixe dentro das enseadas, deixando o caiçara sem ter o que pescar. Procedimento ilegal é claro, mas os donos sem escrúpulos, comodamente instalados nas cidades limitavam-se a pagar as multas quando apanhados em flagrante.
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