Porto do Cruzeiro - Iperoig (Arquivo Ubatuba - História) |
Francisco Maciel, comerciante antigo, originário de Caraguatatuba, que antes tinha um famoso armazém na praia da Enseada, se instalou na esquina das ruas Dona Maria Alves e Coronel Domiciano. Quando adolescente, enquanto tínhamos de esperar o horário do ônibus, a gente se juntava, via quanto de dinheiro tinha e comprava tudo em pães, na venda do Maciel. Gente nova é esganada! Na época já era o seu filho quem comandava tudo. Atualmente, o seu neto Beto mantém uma padaria pequena, mas admirável na rua Conceição. Ou seja, segue a tradição do avô, um homem que poucas vezes foi passado para trás.
Idalina Graça, "alguém que não estudou, não conheceu autores, e que conseguiu escrever dois livros, palavra por palavra, juntando-as para formar sentenças, frases, episódios, de forma escorreita, assimilável e amiga", no dizer de Willy Aureli, nos conta sobre o Maciel:
Pela manhã, quando despertei estava calma. A primeira pessoa que encontrei na rua foi Francisco Maciel Leite, o mais dinâmico homem que conheci na vida. Paramos e trocamos ideias sobre o passado em confronto com o presente. E como eu o chamasse de esperto, ele sorriu dizendo:
- Mas já encontrei alguém mais esperto que eu. E como eu duvidasse, ele continuou:
- Vou contar a você um caso que se deu comigo. É verídico. Era bem moço quando, viajando de Ubatuba para Santos, em canoa de voga, fui tapeado por um dos rapazes da tripulação. Levava a bordo um carregamento de frangos. Ora, você conhece o nosso sistema praiano de cozinhar a refeição que, geralmente é feijão e carne seca, sobre uma tripeça. Era o que usávamos no barco. Atrás desse fogo improvisado estava o jacá de frangos. Lá na popa, eu quase nada via do que se passava na proa, por causa da fumaça que vinha daquele lado; os frangos começaram a morrer. Eu mandava o cozinheiro jogá-lo fora, mas nada disso o rapaz fazia. Dizia não ter nojo, e na hora do almoço, enquanto eu comia o triste jabá, ele e mais três companheiros saboreavam galinha. Um dia brigaram. E palavra vem, palavra vai, diz um deles: "Você pensa que sou da sua igualha? Está cansado de comer frango, porque quando o coitado, com sede, põe o bico de fora, você aperta e depois engana o seo Maciel dizendo que o bicho morreu de fumaça!". Como vê, Idalina, já encontrei na vida alguém mais esperto!
Chico Maciel, possuidor de grande inteligência e negociante abastado em Ubatuba, já ia longe e eu ria e pensava: - Como é formidável esse caiçara de excelente humor, simpático, capaz de negociar até com as estrelas do céu de Iperoig.
Avenida Iperoig - 1972 - (Arquivo JRS) |
Nenhum comentário:
Postar um comentário