Tio Nelson (Arquivo mana Ana) |
Nesta semana perdemos o tio Nelson, irmão da Laurentina, minha mãe. Mais uma vítima da Covid-19, da pandemia do momento. “É só uma gripezinha” o seu rabo, seo excrementíssimo presidente! Em junho próximo o nosso tio faria 81 anos. Aos 79 ainda estava trabalhando como taxista, no ponto da rodoviária Litorânea. Tinha saúde boa, era homem honrado.
As minhas
primeiras lembranças do tio Nelson era dele indo trabalhar em obras na praia do
Lázaro, ajudando nas farinhadas e no carregamento de bananas, jogando bola na
praia da Fortaleza e se divertindo como todo mundo. Quando eu entrei na escola,
ele estava construindo a sua primeira casa no pedaço de terra que o vovô lhe
dera como herança. Eu deixava de ir às aulas só para vê-lo fazendo um
piso de caquinhos de cerâmica. Era impressionante aquilo, sobretudo quando
nosso chão melhor era de cimento grosso na sala e de terra pilada nos demais
cômodos.
Por volta
de 1970, tio Salvador e tio Nelson estavam trabalhando na ASEL (Ação Social Estrela do Litoral), com o frei Pio.
Eram mestre e contramestre do barco “Maria Silla”, o “Barco do
Padre”. Irmã Yolanda assim explicou a respeito:
“O padre Frei Pio Populin, franciscano,
grande missionário de Ubatuba, idealizou um barco que pudesse transportar o
povo das praias e do sertão, para ir vender seus produtos na cidade, seja a
farinha, como também artesanatos que muitos faziam de madeira ou palha, ou para
irem a médicos, etc. Esse barco, construído pelo Odorico, na época frei, foi
uma bênção para o povo. Os “timoneiros” eram os conhecidos Salvador e Nelson”.
Os irmãos: Tonico, Nelson, Maria, João, Laurentina e Tião (Arquivo JRS) |
Tio-avô Domingos, vó Eugênia e filhos. Nelson é o caneludo do meio (Arquivo Conceição) |
Sendo um
dos timoneiros do barco, tio Nelson também transportava as professoras que iam
ensinar nas comunidades isoladas do lado norte do município de Ubatuba. Foi
assim que ele conheceu Marilda, "a moça de Lorena que veio ensinar aqui", a futura esposa. Por isso veio a decisão de vender o que tinha na Fortaleza e comprar um terreno
no centro da cidade, na rua Gastão Madeira, na época (1972), um caminho de
barro no meio do charco de ubás. O dinheiro da venda possibilitou ainda comprar
uma perua Kombi e um lugar no ponto de táxi, na praça Nóbrega, onde teve Ireno,
Renatinho, Freitas, Espigão, Keyti Okase (pai da minha amiga Celina, tristemente assassinado na serra durante uma viagem, uma "corrida") e outros como companheiros. Nesse
tempo (1973) ele morava conosco, no Perequê-mirim, pois não poderia viajar todo
dia para a Fortaleza, à casa dos pais. Lembro-me disso porque eu lia os jornais deixados dentro da Kombi, quando foi marcante a crise do petróleo e os conflitos no Oriente Médio. Nesse ínterim ele construiu, com ajuda de papai e outros, a edícula no lote
adquirido. Só então se casou na matriz Nossa Senhora da Piedade, em Lorena. Tia Marilda
e o tio tiveram duas meninas e o menino. Agora são todos casados.
Tio
Nelson, além de taxista, era diácono da igreja católica. Muito estimado pela
comunidade. Sabia falar, mas sabia sobretudo escutar. Gostava de ler coisas ligadas à religião para melhor exercer sua função religiosa. Falava que eu não devia
ser tão radical. Ah, titio... Se fôssemos radicais esse genocida não estaria no
poder acabando com tantas vidas pelo descaso que faz com a ciência, pelas leis desfavoráveis aos que mais precisam e pelas
tantas mentiras que conta! Esse verme ainda vai separar muitas pessoas
queridas! Está com razão o senador que, há uns dias, se dirigindo ao
Ministro da Saúde, assumiu papel semelhante ao dos antigos profetas: "As
digitais do senhor e do Presidente da República estão nas 235 mil mortes
pela Covid".
A nós fica o exemplo do caiçara honrado que foi o nosso tio. Eternidade é a memória que cultivamos. Desejo muita força à tia Marilda, às primas, ao primo e netos.
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