Boca da barra do Acaraú (Arquivo Igawa) |
A imagem acima, parte do acervo gentilmente cedido pela família Igawa, é do começo da década de 1960, tem uns detalhes interessantes, que nos fazem pensar nas transformações do nosso lugar. A primeira coisa a ser notada é um morro que existia entre o bairro do Acaraú e a fazenda Jundiaquara (na época pertencente ao senhor Holanda Maia). A família do Élvio morava bem ali, no pé do morro. É perceptível a destruição dele acontecendo, num estado bem avançado. Hoje só se veem seus sinais se parar por ali e prestar atenção. Toda a terra retirada dele serviu para aterrar as áreas de brejo e mangues do entorno até a Barra da Lagoa, de onde se extraiu por muito tempo a caxeta. Loteamentos foram abertos para acolher os veranistas, que passavam aqui suas férias anuais. Meus tios Antônio e Aristides diziam que, junto com muitos trabalhadores caiçaras, derrubaram e carregaram muitas toras dos brejos dali. Na avenida Yperoig era o local de beneficiamento, na casa do padre. A segunda observação que faço é a ponte, as suas cabeceiras, do fim do império, quando era parte do traçado da ferrovia que ligaria Ubatuba ao Vale do Paraíba. O jornal Correio do Povo, de 1 de outubro de 1890 grafou:
A's 10 1/2 horas da noite de sabbado último partiram do cáes Pharoux, em diversas lanchas, com destino ao vapor inglez Juno, especialmente fretado pela companhia de navegação Norte-Sul, e na qual se devia fazer a viagem para Ubatuba, os convidados e os diretores da estrada de ferro Norte de S. Paulo, destinada a servir os municípios de Ubatuba a Taubaté, que ali iam assistir ao batimento da primeira estaca da projetada via-ferrea (...) As pessoas que nos tinham ido esperar à Prainha, espécie de alfândega da cidade, ficaram até muito surprehendidas ao ver-nos chegar das bandas do norte, precisamente quando tínhamos partido do sul. A recepção que nos fez o povo de Ubatuba, representado pelas suas primeiras autoridades, deixou-nos muitas e agradabilissimas impressões. Logo ao desembarcar ás 10 horas, foram ao nosso encontro os srs. coronel Francisco Gonçalves Pereira, presidente da Intendência Municipal, padre Vieira da Rosa, vigario da freguezia da Exaltação, dr. Francisco Gonçalves Pereira Filho, engenheiro da estrada de ferro do Norte de S. Paulo, dr. Tavares de Almeida, juiz de direito, dr. Olynto da Siva, juiz municipal, dr. Vasconcellos, promotor público, Victorino da Cunha, delegado de polícia, dr. Esteves da Silva, diretor do Atheneu Ubatubense, o vice-consul portuguez e muitas outras pessôas das mais distinctas do logar.
Por fim, o que mais deveria ocupar a nossa admiração: a beleza da chegada do rio Acaraú ao mar. Que lindo! Tudo limpo há sessenta anos! A obra que aparece é a salga Iwashi (Igawa SA), do senhor Igawa, pai do nosso amigo Nelson, onde toneladas de sardinhas foram beneficiadas. Em 1980 ainda fiz o recenseamento na empresa, de seus trabalhadores e trabalhadoras. O porto, o nosso Caisão da Ponta Grossa, era o local de desembarque de muitos barcos abarrotados de pescados. Onde foi parar essa natureza, esse ponto de referência do nosso município? Agora, por ali, entre margens sufocantes, corre esgoto, mas ainda tem vidas resistindo naquele ambiente. Aquela fartura de sapinhauás daquele canto, da praia do Acaraú, há muito tempo deixou de existir. Enfim, foi-se o morro do Acaraú e aquele rio lindo que sustentou tantas vidas. O que aproveitamos disso? O que deixaremos às gerações vindouras?
Mensagem da Mary Igawa, esposa do Nelson, moradora na área da antiga salga:
Muito linda a sua pesquisa, parabéns ! O morro agora é chão e o rio teve decretada a sua morte quando da implantação das ETAs Sabesp e Coambiental, a primeira no governo do Mario Covas, me parece. Porque foi escolhido o Acaraú de porte tão pequeno para dar vazão ao esgoto da cidade não compreendo, se ainda fosse um Amazonas estaria poluído mas não morto. Para a geração vindoura teríamos que ter tratamento efetivo do esgoto, hoje não passa de uma fase em que há apenas uma filtragem grossa e todo o resto vai para o rio. Dá pra ver o caldo grosso, fétido e escuro saindo de tubulação da Sabesp para o rio; o da Coambiental é água amarelada caindo no curso d'água, parecendo que é mais filtrado.
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