Genésio dos Santos (Capa do livro) |
O senhor André, achando que precisa recuperar o tempo perdido, me questionou quando eu disse que, em Caraguatatuba, no dia 20 de novembro, é feriado. “Que feriado é esse?”. É o Dia da Consciência Negra, você não sabia?
Não é só ele que não sabia. No Brasil,
país com maior número de negros fora da África, um grande contingente dentre
seus habitantes não sabe. Prova disso são os absurdos cometidos por Sérgio
Camargo, presidente da Fundação Palmares escolhido por Bolsonaro. Por ordem
dele, foram retirados do nosso panteão de pátria mestiça, personalidades negras
importantes como Abdias Nascimento, Elza Soares, Martinho da Vila, Tim Maia, Milton
Nascimento, Benedita da Silva, Luís Gama, Carolina de Jesus e outras. Até mesmo
Zumbi de Palmares foi excluído! Como pode tudo isso passar como normalidade, com
poucos comentários contrários e sem proposta para reverter tal situação?
Esse feriado, André, é desde 2011;
trata-se da Lei 12.519 que institui o Dia Nacional de Zumbi e da Consciência
Negra, foi decretada pelo Congresso Nacional e sancionado pela presidenta
Dilma.
Toda nação tem necessidade de heróis.
Assim, Zumbi é um herói da consciência negra que ainda está em construção, pois
até recentemente era apenas “um bandido
que enfrentava os fazendeiros”. Ele é ícone da negritude, resistência à
escravidão, porque liderava toda as categorias de oprimidos (negros, índios,
trabalhadores oprimidos pelos patrões e outras minorias) que acorriam à Serra
da Barriga, local ocupada pelos esperançosos na sua figura e na sua proposta. Ícones,
símbolos e congêneres são importantes. Por isso eu imagino o quilombo de
Palmares, Zumbi e outras lideranças como
uma estrela na nossa bandeira de resistência, como força daqueles que lutaram e
ainda lutam contra a sociedade excludente e preconceituosa que permanece
marcante no Brasil. A prova maior foi a eleição de um candidato que sempre se
destacou por discursos de ódio.
Um país com tantos afrodescendentes e
tantas injustiças tem urgência de ter outra narrativa que eleve o sentimento de
negritude. Precisamos dizer como Makota Valdinha: “Eu não sou descendente de escravos. Eu sou descendente de pessoas que
foram escravizadas”. Agora, conforme diz a minha amiga Egléia, “é triste ter um capitão do mato na Fundação
Palmares”. Como protestar contra tal situação? Não seria função da educação
escolar ser mais incisiva na formação da cidadania?
É isto: Dia da Consciência Negra é dia
de se orgulhar da resistência que somos apesar de séculos de opressão. Pode ser
também de luta íntima, contra você mesmo que ainda está atrelado à ideologia do
invasor europeu cultivada desde 1500 por aqui.
Quem de nós, brasileiras e brasileiros,
não tem em seu código genético uma herança africana? Este é o ponto de partida
da consciência negra! O que segue é luta de séculos por igualdade de direitos e
oportunidades.
Em tempo: a
Fundação Cultural Palmares foi criada em 1988 para promover a preservação dos
valores culturais, sociais e econômicos decorrentes da influência negra na
formação da sociedade brasileira. Ao saber da sua exclusão, a ex-ministra do
meio ambiente, Marina Silva, escreveu que “é
preciso encarar isso com altivez de quem sabe que a história não é feita por
aqueles que têm uma visão autoritária e que eventualmente estão no poder, mas
por aqueles que persistem na democracia e nos valores da civilização”.
Parabéns, falou tudo, eu me sinto envergonha, esse senhor não representa nada
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