Gerânio vermelho (Arquivo JRS) |
"Quando ela era criança, assim ela própria me contou, o lugar onde a família morava, lá no alto do Simão, em volta da casa e pelos caminhos tinha muitas flores, de todo tipo. Todo mundo da casa dela se empenhava em zelar pelas plantas. Mas um dia, a sua vó, limpando um pé de jasmim, foi picada por uma jararaca e morreu em pouco tempo, sem nem ter podido ser acudida. Desse dia em diante a Odócia nunca mais cuidou de flores. Até aquele coentro, aquela alfavaca e outros temperos dali, que ela usa na comida, se não fosse eu estar zelando de vez em quando também não existiriam. Ela ficou afetada com a morte da vó. Foi o que mudou o jeito dela com flores. Eu entendo a razão. Eu a compreendo. Pode ver quem nem vasos de flores temos aqui".
Depois da estimada Odócia, que morreu na costeira enquanto tirava marisco com a sua prima Dirce, conheci outras mulheres que não se entretinham com plantas, com jardim. Hoje, então, devido a outras preocupações e por falta de espaço, muitas casas nem jardim possuem. No meu quintal, entre as minhas queridas flores não tem gerânio. Acho as suas flores lindas, mas me recuso cultivá-lo na minha proximidade em memória de Odócia que morreu jogada pelo mar contra as pedras repletas de cracas e pindás. Prefiro ficar apenas com a imagem daquela planta resgatada por mim, daquele gerânio vermelho que o estimado Aristeu cultivou com tanta devoção até o fim da vida em memória da sua amada. Me recuso a cuidar de gerânios por isso.
Mais um texto que nos remete ao lugar especial do passado... Sinto saudades até durante a leitura, obrigada por me deixar saudosa de situações que não vivi....
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